França e Alemanha apelam à união da Europa face ao regresso de Trump à Casa Branca

A União Europeia deve estar unida e estreitamente coordenada tendo em vista o próximo regresso de Donald Trump à Casa Branca, salientaram esta quarta-feira os líderes das duas principais potências do bloco, Alemanha e França.

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz, felicitaram Trump pela vitória eleitoral de terça-feira, mas também foram rápidos em sublinhar os desafios colocados pela sua política comercial protecionista “América Primeiro” e pela sua retórica isolacionista.

“A União Europeia deve estar unida e agir de forma unida”, disse Scholz aos jornalistas, acrescentando que ele e Macron estavam em estreita coordenação com outros chefes de Estado e de Governo da UE. Já o presidente francês, numa mensagem na rede social ‘X’, que Berlim e Paris trabalhariam para uma Europa unida e mais forte dentro do “novo contexto”.

De acordo com a agência ‘Reuters’, alcançar a unidade europeia será, no entanto, um desafio, até porque, nos últimos anos, Paris e Berlim têm estado cada vez mais em desacordo sobre questões que vão desde a forma de financiar o aumento das despesas com a defesa até ao comércio e, em particular, as tarifas sobre os carros elétricos da China.

A nível interno, os dois líderes também se encontram em posições políticas delicadas, com Macron a perder grande parte do seu poder após derrotas nas eleições no início deste ano e Scholz a lutar para manter a sua coligação unida. “Ao contrário do que se afirma, a Europa não está preparada para o impacto económico de tarifas mais elevadas, a provável reviravolta na Ucrânia e os ultimatos em matéria de gastos com a defesa – esperamos que a UE se divida em linhas semelhantes às dos próprios EUA”, afirmaram os analistas da Eurointeligência.

Uma preocupação particular para a Europa é o comércio: Trump disse no mês passado que a União Europeia teria de “pagar um preço elevado” por não comprar exportações americanas suficientes se ganhasse as eleições.

A responsável da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, felicitou o antigo presidente republicano pela sua vitória, mas também disse que evitar guerras comerciais seria do interesse dos EUA e também da UE. “Milhões de empregos e milhares de milhões em comércio e investimento de cada lado do Atlântico dependem do dinamismo e da estabilidade da nossa relação económica”, salientou.

Donald Trump, que tomará posse em janeiro, já avisou que iria impor uma tarifa de 10% sobre as importações de todos os países e tarifas de 60% sobre as importações da China – essa medida afetaria as cadeias de abastecimento em todo o mundo, provavelmente aumentando os custos, e a China tentaria desviar as suas exportações para a Europa, alertaram os economistas.

Outra preocupação para a Europa é a mudança na política externa dos EUA, em particular no que diz respeito à guerra na Ucrânia. Trump criticou o nível de apoio dos EUA ao esforço de guerra da Ucrânia e antes das eleições prometeu pôr fim ao conflito ainda antes de tomar posse, embora sem explicar como.

O chefe da NATO, Mark Rutte, esteve entre muitos outros na Europa que felicitaram Trump e esperaram uma boa cooperação. Muitos políticos europeus avisaram que o seu regresso à Casa Branca exigiria que a Europa assumisse maior responsabilidade pela sua segurança. “Devemos agora pensar em grande e fazer grandes investimentos na nossa segurança europeia”, destacou a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock.