Ficth baixa ‘rating’ do Montepio por deterioração de capital e fracas perspetivas de negócio
A Fitch baixou o ‘rating’ de risco de longo prazo do banco Montepio face à deterioração de capital e às fracas perspetivas de negócio, segundo a análise hoje divulgada. A agência de ‘rating’ espera ainda que o perfil financeiro do Montepio se vá deteriorar de futuro.
Assim, decidiu baixar o ‘rating’ de risco de longo prazo do banco Montepio de ‘B+’ para ‘B-‘ ( IDR – Issuer Default Rating na expressão técnica em inglês) e o ‘rating’ de viabilidade de ‘b+’ para ‘b-‘.
Segundo a Fitch, o rácio de capital do Montepio sofreu uma deterioração no primeiro trimestre, mas o banco permaneceu dentro dos requisitos temporários e, dada a tolerância regulatória devido à crise da covid-19, não espera qualquer intervenção.
Além disso, refere, o banco está a implementar medidas de reforço de capital, que acredita que “podem ajudar a estabilizar ou melhorar” os rácios até ao final do ano.
Contudo, os rácios de capital são baixos em comparação com os pares nacionais e internacionais, isto quando o pior em termos de impacto negativo da crise nos perfis financeiros dos bancos ainda está por vir, sendo os rácios de capital do Montepio muito vulneráveis a choques moderados na qualidade dos ativos devido a ter elevados ativos problemáticos.
A agência de ‘rating’ afirma ainda que o Montepio tem uma capacidade limitada de geração de capital orgânico, dado o alto nível de ativos problemáticos e a sua baixa rentabilidade operacional.
Para já, considera, o Montepio tem opções estratégicas muito limitadas e precisa de dar prioridade a medidas de correção de capital e a uma profunda reestruturação da sua rede comercial para melhorar a eficiência.
O facto de o modelo de negócios do banco se concentrar essencialmente nas atividades bancárias de retalho, sobretudo crédito à habitação e empréstimos a Pequenas e Médias Empresas (PME), torna-o vulnerável às prolongadas baixas taxas de juros e à forte concorrência doméstica, acrescentou.
A Fitch recorda o recente anúncio do banco de reforço da digitalização e redução de 31 balcões em Portugal (10% da rede comercial), considerando que mais medidas se seguirão para diminuir custos e apoiar a rentabilidade operacional.
Considera ainda que a governação do banco e do seu acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral, leva a riscos significativos para os credores do banco.
A Fitch recorda o elevado nível de crédito malparado do banco, de 12,1% no fim de março, e estima que o índice de ativos problemáticos seja de 18% na mesma data se for incluído imobiliário.
Além disso, a perspetiva é de que a qualidade dos ativos se deteriore este ano e no próximo devido à crise, sobretudo pela elevada exposição a setores mais vulneráveis (como restaurantes, hotéis, turismo, construção, transportes).
O banco Montepio teve lucros de 5,4 milhões de euros no primeiro trimestre, 17% abaixo de período homólogo, num trimestre em que constituiu 15,5 milhões de euros em imparidades devido ao impacto da covid-19.
Os resultados em operações financeiras ascenderam a 15,9 milhões de euros no primeiro trimestre de 2020, quando no mesmo período de 2019 tinham sido negativos em 1,3 milhões de euros, que se devem a ganhos com a alienação de dívida pública e privada feita entre janeiro e março.
A Fitch diz que sem as operações extraordinárias o banco teria tido prejuízos, considerando que a pressão sobre os resultados continuará no resto do ano, pela pressão na margem financeira, pelo aumento significativo das provisões de crédito e pelo possível aumento nos custos de financiamento.
O banco Montepio é detido pela Associação Mutualista Montepio Geral, que teve prejuízos de 408,8 milhões de euros em 2019, sobretudo devido ao reforço das imparidades para o banco Montepio, que comparam com lucros de 1,6 milhões de euros de 2018.
Hoje realizam-se as assembleias-gerais de tanto do banco como da mutualista.