“Faz o que eu digo, não faças o que eu faço”, diz Warren Buffett

O lendário investidor, atualmente com 90 anos de idade, não é avesso a contradições. Uma grande parte da carta anual que escreveu este ano aos acionistas da sua Berkshire Hathaway é dedicada a explicar o seu “grande” erro de, no ano passado, ter pago demasiado por ações da Precision Castparts, uma construtora de peças para a indústria aeronáutica.

Mas a reunião anual que Warren Buffett faz com os seus acionistas, que este ano teve lugar no passado sábado via internet, foi apimentada por uma série de outros erros cometidos em 2020 pelo Oráculo de Omaha, como também é conhecido. Entre as várias “mea culpa” expressas por Buffett, está a venda de uma porção substancial de ações da Apple, a alienação de posições em companhias aéreas e o falhanço num negócio da indústria da saúde.

Apesar de fazer da negociação de ações uma arte que tem valido aos seus acionistas ganhos anuais médios de 20% desde 1965, Buffett não recomenda os investidores a comprarem ações, nem mesmo da Berkshire Hathaway. “Nunca recomendei Berkshire a ninguém porque não quero que as pessoas comprem porque pensam que estou a dar-lhes uma gorjeta”, disse Buffett na assembleia de acionistas da sua empresa.

A Berkshire é um gigantesco conglomerado de 525 mil milhões de euros de empresas a operar numa série de setores de atividade. Porém, a empresa de Buffett é mais conhecida pelo seu portfólio acionista avaliado em 235 mil milhões de euros (1,16 vezes o PIB de Portugal).

Durante o evento, Buffett repetiu reiteradamente a sua recomendação para que os investidores optassem por comprar fundos cotados (Exchange-traded funds) que replicassem índices de ações. “Há muito, muito tempo que recomendo as pessoas a investirem num fundo que replique o S&P 500”, referiu por várias ocasiões.

A recomendação de Buffett foi sustentada através de dois slides que o investidor apresentou para mostrar a enorme dificuldade em selecionar ações. No primeiro slide constam as 20 maiores empresas por capitalização bolsista a 31 de Março de 2021, como Apple, Saudi Aramco, Microsoft, Amazon e Alphabet. “Quantas destas empresas estarão nesta lista nos próximos 30 anos”, questionou.

Depois mostrou um segundo slide com as 20 maiores empresas em 1989. Nenhum dos gigantes de 2021 constava na tabela de 1989 (que era liderada por empresas japonesas), e vice-versa. Desta forma, Buffett revela-se perentório afirmando que nenhuma das 20 maiores empresas de hoje fará parte da lista das maiores empresas dentro de 30 anos. “Nenhuma, zero”, disse.

“É um alerta de que coisas extraordinárias vão acontecer”, referiu Buffett. “Estávamos tão seguros de nós mesmos como investidores e Wall Street em 1989 como estamos hoje”. Mas o mundo pode mudar de formas muito, muito dramáticas”.