Fast-food dá mais vontade de continuar a comer depois da refeição. E afecta a memória

Consumir comida rica em açucares e gordura faz diminuir o funcionamento da memória, para além de que dá vontade de continuar a comer, mesmo depois da pessoa já estar aparentemente satisfeita, diz um novo estudo da Universidade Macquarie Sidney, publicado na ‘Royal College Open Science’, que aborda os riscos da fast-food, em jeito de alerta.

De acordo com o estudo, a fast-food impede o hipocampo, uma componente cerebral, de bloquear a recordação do quão apetecíveis são certas comidas, levando a que a pessoa continue e comer.

A pesquisa acompanhou 110 estudantes com idades compreendidas entre os 20 e os 23 anos, que costumavam ter uma alimentação saudável mas, para o teste, metade deles começou a comer fast-food e bolachas belgas, durante uma semana.

Findo o período, fizeram testes de memória a todos os estudantes envolvidos, revelando que aqueles que mantiveram uma alimentação saudável, registaram melhores resultados do que os outros, que por sua vez, apresentavam uma maior tendência para querer comer fast-food depois de terminarem a refeição.

Carlos Ribeiro, investigador do programa de neuro-ciência da Fundação Champalimaud, que estuda os efeitos da nutrição no cérebro, com especial enfoque na tomada de decisões, não pareceu surpreendido com os resultados, apesar de ainda não ter lido o estudo.

«É uma área onde há muitos estudos neste momento. Sem comentar o estudo em concreto, posso dizer, em geral, que o que se come tem um efeito directo no funcionamento do cérebro, e o hipocampo é uma zona do cérebro muito importante para a parte cognitiva, sobretudo para a memória. No entanto, embora saibamos que existem efeitos do que se come, quais eles são exactamente, qual é a contribuição para aspectos de comportamento, por exemplo, ainda estamos a começar a compreender. Neste momento, o que se está a fazer é uma lista desses efeitos. Mas os mecanismos ainda não conhecemos muito bem», referiu em declarações ao Expresso.

«A comida fast-food tem poucas proteínas e é sobretudo a proteína que dá ao cérebro o sinal de que os nutrientes dentro da comida são suficientes. Mas um problema dos estudos de nutrição é que não são muito claros. O problema é terem mais açúcar e gordura ou terem falta de outros nutrientes, como a proteína? Os detalhes são importantes. O que posso dizer é que a comida fast-food tem, a longo prazo, um efeito mais baixo de saciedade, pelo que há uma tendência para comer mais quando se come fast-food», conclui o investigador.