Famílias em dificuldades fazem disparar pedidos à banca: renegociações já representam 40% dos novos créditos à habitação
A percentagem de créditos à habitação já renegociados ascendeu a 40,2% e 41,8% em agosto e setembro último, os valores mais elevados do ano: de acordo com o jornal ‘Público’, nesses dois meses foram renegociados perto de 1.477 milhões de euros de crédito, o que perfaz um total de 5.326 milhões de euros em 2023. Os números são esclarecedores sobre a dificuldade das famílias em suportar o atual nível das taxas de juro.
Nos cinco maiores bancos – CGD, BCP, Santander, BPI e Novo Banco -, até setembro, foram renegociados mais de 100 mil créditos à habitação, um número que vai continuar a subir nos próximos meses. O risco da carteira de crédito levou mesmo o Banco de Portugal a impor a criação de uma reserva de capital suplementar aos principais bancos nacionais. “A medida tem uma natureza preventiva e visa aumentar a resiliência das instituições visadas, face a uma potencial deterioração das condições económicas e/ou a uma eventual correção significativa inesperada dos preços do imobiliário residencial”, referiu o órgão regulador.
O economista Pedro Brinca, em declarações ao jornal diário, referiu que a reserva suplementar de 4% se deve “ao impacto da política monetária, neste caso da subida das taxas de juro, que se manifesta na sua plenitude entre 12 e 18 meses após se ter materializado”. O que significa que “há 12 meses, a taxa do juro ainda andava pelos 1,5%”, ou seja, “o grosso do impacto da subida das taxas de juro ainda se espera que venha para a frente, numa altura em que a economia portuguesa já está em terreno negativo, bem como a da zona euro”.
Se o montante total do crédito à habitação em carteira por parte dos bancos está a diminuir, a exposição da banca ao imobiliário está a aumentar: em setembro último, o montante total ascendia a perto de 99,2 mil milhões de euros, menos 0,8% do que em 2022. No segmento empresas, na mesma data, era de 73,3 mil milhões de euros, menos 4% face ao ano passado. No entanto, o incumprimento está a aumentar: no final de setembro, a verba de empréstimos contraídos por empresas de atividades imobiliárias vencida era de 213 milhões de euros, um aumento anual de 24%.