“Falta um pacote de medidas específicas para incentivar o investimento privado em Private Equity e em Venture Capital”

No cenário económico actual, o papel do investimento privado tem-se tornado cada vez mais crucial para o dinamismo e a inovação dos mercados. Em particular, as áreas de Private Equity e Venture Capital destacam-se como fundamentais para o crescimento e a transformação de empresas em diversas fases de desenvolvimento.

A revista Risco falou com Stephan de Moraes, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI) e também fundador e CEO da Indico Capital Partners, para conhecer o trabalho e objectivos da associação, bem como para perceber a importância do investimento privado em Private Equity e Venture Capital, e de que forma contribui para o crescimento económico das empresas.

Qual o trabalho desenvolvido pela APCRI e qual o objectivo da associação?
A Associação Portuguesa de Capital de Risco – APCRI representa a indústria de Private Equity e de Venture Capital em Portugal e tem como principal objectivo dinamizar a economia portuguesa, promovendo a aplicação de capital em fundos profissionais que invistam em empresas, proporcionando o seu crescimento e padrões de gestão de grande qualidade.
O objectivo da indústria que representamos é aumentar o investimento de capital público e privado no tecido empresarial português. Cabe à APCRI difundir o capital de risco como fonte de financiamento e factor de crescimento das empresas, levando aos empresários, a potenciais investidores, ao Estado e, na generalidade, à opinião pública, dados objectivos de instituições independentes sobre os resultados muito positivos que o sector tem alcançado em Portugal.

Quais os principais objectivos que estabeleceu para a APCRI durante o seu mandato?
A nova Direcção a que presido apontou três prioridades para o próximo biénio:

  • Promover o aumento do investimento nacional privado em Private Equity e Venture Capital;
  • Promover a colaboração com os agentes do Estado relacionados com a indústria, nomeadamente o Banco Português de Fomento, o Ministério da Economia e o Ministério das Finanças, de forma a optimizar os programas públicos de investimento de capital de risco actuais e futuros;
  • Estreitar as relações com a CMVM para melhorar a indústria e respectiva regulação.

Como é possível aumentar significativamente o investimento privado em Private Equity e Venture Capital em Portugal?
Este Governo já deu alguns passos no bom sentido em algumas das 60 medidas que o ministro da Economia, Pedro Reis, apresentou recentemente ao país. Falta agora um pacote de medidas específicas para incentivar o investimento privado em Private Equity e em Venture Capital, e adequar os instrumentos públicos actuais e futuros às melhores práticas internacionais.
É necessário também criar mecanismos que atraiam os investidores institucionais portugueses e estrangeiros para aplicarem activos na indústria nacional, tal como sucede com sucesso nos ecossistemas de capital de risco por esse mundo fora. 

Quais são as principais razões para Portugal estar tão abaixo na tabela de investimento privado em comparação com outros países da União Europeia?
A economia portuguesa sempre se baseou na actividade bancária em vez da capitalização das empresas com capitais próprios. Por outro lado, raramente houve uma real prioridade dos sucessivos governos em criar e fortalecer a indústria de capital de risco, ou seja, a criação de fundos de investimento profissionais com dimensão, tal como fizeram outros países desenvolvidos ao longo das últimas décadas. Uma indústria pequena e pouco conhecida não conseguia, depois, gerar confiança nos empresários para aceitarem sócios de capital nas suas empresas – e era sempre mais fácil recorrer a endividamento na banca.
No entanto, um estudo recente do ISCTE sobre a indústria comprova que existe “uma notável contribuição do capital de risco para o volume de negócios das respectivas participadas”, as quais revelam uma evolução significativamente mais favorável comparativamente à média nacional por empresa.
Em Portugal, são dados objectivos que as empresas participadas pelo capital de risco crescem mais, exportam mais, empregam mais e pagam melhor aos trabalhadores. Também pagam muito mais impostos ao erário público do que a média nacional. Urge, portanto, criar as bases para que haja mais investimento privado em fundos profissionais que fazem crescer as empresas, conforme está comprovado.

Como é que o capital de risco pode tornar o tecido empresarial português mais competitivo e inovador?
Com a mistura de capital privado e de gestão profissional de que já falei. A indústria de capital de risco tem uma vocação natural para a regeneração e a consolidação das PME portuguesas, que precisam de capital e de melhor gestão para ganharem escala.
As startups e as empresas investidas pelo capital de risco também conseguem atrair talento e muito capital estrangeiro para Portugal, o que é decisivo para o sucesso de projectos empresariais em que a inovação é o elemento central no processo de criação de riqueza à escala global.

Que tipos de empresas podem ser as principais beneficiárias do aumento de investimento em Private Equity e Venture Capital?
Empresas com potencial para aumentarem as suas vendas, exportações e presença internacional, por exemplo. Também startups com produtos inovadores, escaláveis mundialmente: o ecossistema inovador português é muito criativo e competitivo internacionalmente. Mas também empresas em processo de reestruturação que precisam de capital e experiência para darem a volta e voltarem a crescer.

Que estratégias a APCRI adoptará para informar e atrair investidores privados para o sector de capital de risco?
Essa atracção não cabe à APCRI, mas sim às suas associadas. O que a APCRI tem é de difundir na opinião pública – e de transmitir directamente a decisores públicos e privados e às entidades reguladoras – os resultados reais e validados externamente muito positivos que a indústria está a alcançar nas empresas nacionais em que intervém. Cabe também à APCRI trabalhar de perto com os diversos intervenientes do Estado na criação de instrumentos que façam a indústria crescer, assim como na eliminação de barreiras que possam impedir essa captação de capital para os fundos.

Que medidas específicas serão tomadas para garantir que as melhorias no sector de capital de risco sejam sustentáveis a longo prazo?
Devem ser introduzidas medidas que impeçam distorções no mercado, mas que incentivem a entrada de capital privado nos fundos profissionais. O capital privado é tanto mais disponível para o investimento, quanto as regras de concorrência são justas e favorecem o alinhamento de interesses.
A APCRI já transmitiu ao Governo a sua disponibilidade para colaborar na definição de novos incentivos correctos, transparentes e que sejam úteis ao país.