Falhas na Linha SNS 24 agravam caos e sobrecarga nas urgências hospitalares
A incapacidade da Linha SNS 24 para responder eficazmente ao aumento da procura tem contribuído para o congestionamento das urgências hospitalares em várias regiões do país. Nos últimos dias, cerca de um terço dos episódios atendidos nas urgências não eram considerados casos urgentes, apontando para falhas na triagem inicial.
João Ribeiro, de 64 anos, exemplifica a frustração vivida por muitos portugueses. O seu irmão, que sofre de um tumor, viu-se obrigado a recorrer diretamente ao Hospital de Vila Real após múltiplas tentativas falhadas de contactar a Linha SNS 24. “Na quarta-feira à tarde, o meu irmão estava mal e o meu sobrinho tentou ligar duas vezes. Na primeira, esperou 30 minutos e desligou; na segunda, esperou 20 minutos e também não conseguiu ser atendido. Acabámos por desistir e fomos diretamente para a urgência”, relatou ao Correio da Manhã.
As falhas na Linha SNS 24 coincidem com um aumento significativo de infeções respiratórias, resultando numa procura intensa das urgências e em tempos de espera elevados. Esta quinta-feira, no Hospital de Loures, mais de 50 utentes com pulseira amarela aguardavam atendimento, com uma espera média de 7 horas e 22 minutos. Situação semelhante foi registada no Hospital Amadora-Sintra, onde quase 100 utentes aguardavam, 44 dos quais também com pulseira amarela, enfrentando esperas de cerca de 3 horas.
O Hospital de São José, em Lisboa, revelou que entre 23 de dezembro e 1 de janeiro atendeu 3473 casos, dos quais 36% não eram urgentes. Mais de 1200 desses utentes não recorreram ao SNS 24 nem foram encaminhados pelo CODU/INEM.
Números semelhantes surgem noutras unidades:
- No Hospital de Setúbal, entre 23 e 29 de dezembro, 29% dos 1368 atendimentos não eram urgentes.
- No Garcia de Orta, Almada, 25% dos 1675 episódios de urgência na última semana chegaram sem qualquer encaminhamento.
- No Hospital São Francisco Xavier, apenas 56% dos 1632 episódios entre 26 de dezembro e 1 de janeiro foram classificados como urgentes.
Apesar destas discrepâncias, a Unidade Local de Saúde (ULS) de Lisboa Ocidental destacou que 60% dos utentes atendidos chegaram encaminhados pelos serviços do SNS 24 ou CODU/INEM.
Ministério da Saúde e novos projetos
Face às críticas, o Ministério da Saúde reconheceu dificuldades no tempo de resposta da Linha SNS 24, especialmente durante os “picos” de procura. Embora 85% das chamadas em dezembro tenham sido atendidas em menos de 15 minutos, os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) admitiram que nalguns momentos os tempos de espera ultrapassaram uma hora.
Desde quarta-feira, o SNS 24 implementou um serviço de triagem digital, já utilizado por mais de 1440 utentes até ao meio-dia de quinta-feira. Este serviço destina-se a adultos com sintomas respiratórios e visa aliviar a pressão sobre os centros de atendimento.
Além disso, iniciativas como o projeto de telemonitorização da ULS Barcelos/Esposende prometem melhorar a gestão de doentes crónicos à distância, garantindo cuidados mais próximos e acessíveis.