Falcão Neves, GM Portugal: “O Diesel vai sobreviver, mas está a deixar de fazer sentido nos segmentos mais baixos do mercado”

A forma como o consumidor olha para os automóveis com motores Diesel está a mudar, garante o Director-Geral da General Motor Portugal. Para João Falcão Neves, o Diesel vai sobreviver, embora deixe de fazer sentido nos segmentos mais baixos do mercado, devido ao aparecimento de uma nova geração pequenos motores gasolina muito eficientes. Terceira e última parte da entrevista exclusiva à Automonitor.
 
O recente escândalo dos testes de emissões viciados pode ser o início do fim dos motores Diesel?
Penso que não. O motor Diesel tem o seu caminho e a sua utilização é uma inevitabilidade que resulta da própria produção de combustíveis. Para produzir gasolina é necessário produzir gasóleo e há por isso um certo equilíbrio que é preciso manter. Quando esse equilíbrio se perder, o gasóleo baixará tanto de preço que voltará a ser procurado.
O que está a acontecer é uma mudança da forma como olhamos para o Diesel. Este tipo de motores tem uma penetração grande demais em alguns mercados (e Portugal é um deles), por causa dos valores residuais percebidos. O cliente acredita que um Diesel tem maior durabilidade e que, por isso, tem um valor de revenda mais alto.
E neste aspeto o que se está a passar pode ter alguma importância, mudando este paradigma. Até porque o gasóleo está a começar a deixar de fazer sentido para uma certa utilização, mais moderna e atual, do carro. Com efeito, o Diesel compensa e é interessante para um carro que faça muitos quilómetros, mas para um carro citadino acaba por ser caro de mais.
 
Isso quer dizer que há segmentos, nomeadamente os mais baixos do mercado, onde o motor Diesel tenderá a perder a sua hegemonia?
Há segmentos onde, racionalmente, Diesel já não faz muito sentido. E é uma das razões porque estamos tão apostados no motor 1.0 Turbo a gasolina no novo Astra. Acreditamos que até ao segmento C, dos automóveis compactos, um motor pequeno a gasolina que não consuma muito faz todo o sentido, e é uma opção mais racional que um Diesel, que tem sempre um custo de aquisição mais alto. O maior custo de aquisição do Diesel é assumido pelo comprador na expetativa de que o preço de revenda também será mais elevado, mas a partir do momento em que isso se alterar, haverá uma tendência natural de procura em direção aos pequenos motores gasolina.
 
O problema das emissões é de uma marca ou de toda a indústria, e em particular da indústria automóvel alemã?
É um problema que afeta, aos olhos da opinião pública, a credibilidade de toda a indústria europeia.
 
Quem é?
João Falcão Neves assumiu em 1 de Abril de 2013 o cargo de Diretor-Geral da General Motors Portugal.
Licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico e com um MBA em Marketing pela Universidade Católica, João Falcão Neves ingressou na Opel Portugal em 1990, tendo liderado projetos multifuncionais em várias áreas ligadas à produção. Em 2006, foi nomeado Diretor de Vendas da Opel e um ano mais tarde transita para a Chevrolet, outra das marcas do Grupo GM, para assumir as funções de Diretor Comercial.
Com a independência das marcas do grupo GM, em 2009, Falcão Neves passa a Diretor-Geral da Chevrolet Portugal. Em Novembro de 2012 integra a estrutura executiva da Chevrolet Europe, transferindo-se para Budapeste, capital da Hungria, com a responsabilidade das operações da marca nos países da região Centro e Sul da Europa de Leste. Em abril do ano seguinte regressa a Lisboa para assumir a liderança da Opel em Portugal.
João Falcão Neves nasceu em Lisboa, em 1963. É casado e tem quatro filhos.