Fã de Tintim? 90 anos depois da estreia, é hoje publicada versão original de ‘O Lótus Azul’ com 124 páginas (e a cores)

Uma nova edição de O Lótus Azul, um dos livros mais icónicos de Tintim, chega hoje às livrarias francesas, marcando uma ocasião especial para os admiradores do universo criado por Hergé. Publicada originalmente em 1936 com 124 páginas a preto e branco, esta versão é agora apresentada pela primeira vez completamente a cores, oferecendo uma nova perspetiva sobre esta aventura ambientada em Xangai.

Esta luxuosa edição restabelece a versão original publicada em formato serializado na imprensa da época, antes de ser reduzida para 64 páginas pela editora Casterman, em 1946, para adequar-se ao formato convencional dos álbuns de Tintim. A coloração, com tons sépia e outras nuances cuidadosas, procura manter a autenticidade da visão de Hergé, mas adiciona uma dimensão visual contemporânea que promete encantar tanto novos leitores como fãs de longa data.

Benoît Mouchart, diretor editorial da Casterman, considera esta edição um marco significativo na história do autor. “Esta aventura representa um ponto de viragem cultural porque é o primeiro álbum em que Hergé começa a afastar-se dos estereótipos e preconceitos do seu ambiente”, afirmou. Segundo Mouchart, O Lótus Azul é também “o primeiro grande clássico de Hergé, pois é aqui que a famosa linha clara se começa a afirmar verdadeiramente”.

Anteriormente, os álbuns de Tintim apresentavam cenários que mais pareciam “postais ilustrados” ou “decorações de cinema burlesco”, destacou Mouchart. Com O Lótus Azul, Hergé demonstra uma maturidade artística e narrativa que consolida o seu estilo único.

Um dos aspetos mais marcantes desta história é a introdução de Tchang, personagem inspirado no amigo e mentor artístico de Hergé, o escultor e pintor chinês Zhang Chongren (ou Tchang). Este encontro foi decisivo tanto na vida pessoal como na carreira do autor.

“Hergé era autodidata, e com Tchang começou a receber as suas primeiras lições de desenho reais”, explicou Mouchart. Mas a influência foi além da técnica artística: “Ele descobriu uma nova forma de espiritualidade e uma perspetiva diferente sobre o mundo.”

Para acompanhar o lançamento desta edição especial, a Casterman também publica uma biografia de Tchang, que morreu em 1998, em Nogent-sur-Marne, aos 91 anos. A obra explora o percurso de vida fascinante deste artista, desde as suas raízes na China até à sua longa amizade com Hergé, que permaneceu uma fonte de inspiração mútua ao longo das décadas.

Com esta edição restaurada e colorida de O Lótus Azul, os leitores têm agora a oportunidade de redescobrir a riqueza de uma obra que não só é um marco na evolução artística de Hergé, mas também um testemunho da sua capacidade de ultrapassar fronteiras culturais e artísticas. A obra já é considerada um tesouro pelos tintinófilos e promete consolidar ainda mais o legado intemporal de Tintim.