Explicador: BCE vai hoje parar com a subida das taxas de juro? O que podemos esperar? Esta é a opinião dos especialistas
O Banco Central Europeu tem hoje na mão mais uma decisão da política monetária da Zona Euro, podendo aumentar uma vez mais as taxas de juro para fazer frente à inflação que voltou a subir no mês de setembro, ou decidindo por uma paragem.
“Não são esperadas quaisquer alterações de política monetária, pelo que a atenção se vai concentrar nas comunicações de Christine Lagarde”, explica David Brito, Diretor-Geral da Ebury, em declarações à Executive Digest.
Ricardo Evangelista, Diretor Executivo da ActivTrades Europe, partilha da mesma visão, mas acrescenta que “o mais interessante será ver o tom que Christine Lagarde vai usar. Acredito que venha a adotar uma postura cautelosa, mencionando os riscos de uma nova crise energética que leve ao reacendimento da inflação, reafirmando o propósito de monitorar a situação e reagir da forma adequada”.
O Diretor Executivo da ActivTrades Europe espera uma postura menos dovish por parte do BCE, ao contrário do que tem sido usual nas últimas intervenções públicas de membros do conselho política monetária, que têm entreaberto a porta ao fim do atual ciclo de subidas dos juros.
“Acredito que a abordagem do BCE será sóbria, citando os riscos e a necessidade de monitorar a sua evolução, mas gerindo esta comunicação de forma a evitar especulações nos mercados que prejudiquem o crescimento económico”, sublinha.
A guerra no Médio Oriente podem ter algum impacto na análise feita pelo organismo liderado por Lagarde, no entanto, o consenso não acredita que este cenário possa alterar as previsões do mercado.
No entanto, considera Ricardo Evangelista, uma escalada do conflito envolvendo outros países da região, que poderia afetar o fornecimento de petróleo e gás aos mercados globais e consequentemente subidas dos preços, colocaria a inflação de novo no centro das atenções, porventura abrindo caminho a mais subidas dos juros.
Assim, num cenário em que a crise em Israel não sofra uma escalada, e em que não surjam mais “surpresas”, a maioria dos analistas acredita que poderemos ter o primeiro corte a partir de meados de 2024.
Os especialistas da XTB também esperam que as taxas de juro permaneçam inalteradas por parte do BCE. “No entanto, é preciso notar que a pressão inflacionária continua presente na economia e que a mesma está a dar sinais de um abrandamento, pois os últimos dados relativos a Setembro mostraram uma descida de 5.2% para 4.3% em relação ao mesmo período do ano passado.
Deste modo, seria possível ainda mais uma subida por parte do BCE, caso a inflação permaneça nesses valores por mais tempo, mas para isso o BCE deverá esperar mais uns meses por novos dados. Em paralelo, a deterioração da economia por si só fará uma pressão deflacionária sobre os preços, o que pode levar o BCE a acreditar que já não será necessário mais subidas das taxas de juro”.
Consideram ainda que é demasiado cedo para falarmos de uma descida das taxas de juro, uma vez que a inflação continua muito acima das metas (2% taxa de inflação) desejadas pelo BCE. No entanto, não consideram descabido começarmos a falar de um fim do ciclo de subida dos juros que poderá estar para breve, pese embora a atividade económica continue a abrandar, nomeadamente as principais economias europeias como Alemanha e França. “A juntar a tudo isto, os dados referentes às vendas a retalho na Zona Euro também mostram sinais de fraqueza. Os últimos dados de Outubro mostraram que as vendas a retalho caíram muito mais do que se esperava -2,1% vs -1,2% e ficaram abaixo dos dados anteriores referentes a setembro”.
“Neste momento, sustentar o crescimento económico não é uma prioridade do BCE nem de nenhum banco central neste momento. O BCE está empenhado em arrefecer a atividade económica para que a inflação atinja os níveis desejados, a fim de se evitar problemas estruturais. Contudo, esta estratégia terá sempre de salvaguardar os agentes económicos mais vulneráveis como as famílias e empresas”, acrescentam.
Recorde-se que o BCE voltou a aumentar as taxas de juro em 25 pontos-base na reunião de setembro, um valor recorde, o mais alto da história da zona euro. Assim, a taxa de facilidade de depósito subiu para 4%, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento aumentou para 4,50%, e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez subiu para 4,75%.
O BCE já aumentou os juros num total de 450 pontos-base (p.b.) desde julho de 2022.