Explicador: BCE pode parar hoje com a subida das taxas de juro? Esta é a opinião dos especialistas

O Banco Central Europeu tem hoje na mão mais uma decisão da política monetária da Zona Euro, podendo aumentar uma vez mais as taxas de juro para fazer frente à inflação que voltou a subir no mês de agosto, ou decidindo por uma paragem. As opiniões dos especialistas divergem.

O BCE já aumentou os juros num total de 425 pontos-base (p.b.) desde julho de 2022, e tem duas opções: pausar ou continuar a limitar as condições monetárias.

Anteriormente os investidores ainda conseguiam obter insights sobre a política monetária futura através da análise da orientação futura do banco, no entanto, as perspetivas incertas estão a fazer com que as decisões sejam tomadas “reunião a reunião”.

Para Franck Dixmier, Diretor Global de Investimentos em Obrigações, Allianz Global Investors (AllianzGI), este “é o momento certo para continuar a limitar as condições monetárias, e espera-se que a Presidente do BCE, Christine Lagarde, anuncie um aumento de 25 p.b. na reunião de setembro”.

O especialista considera a desaceleração do crescimento na Zona Euro ainda não é suficientemente preocupante para justificar uma pausa, enquanto os níveis de inflação ainda estão longe da meta do BCE.

Em declarações à Executive Digest, a Ebury partilha da mesma opinião e considera que “a decisão do BCE é sem dúvida uma das mais difíceis de tomar neste ciclo. O enfraquecimento da atividade económica contrasta fortemente com uma inflação ainda desconfortavelmente elevada. Ultimamente, os falcões têm feito barulho, aumentando o suspense. Como resultado, estamos agora provisoriamente inclinados para uma subida, atribuindo uma probabilidade de 60% a favor de um aumento”.

Já Mário Martins, analista da ActivTrades, por outro lado, acredita que é “expectável uma pausa na subida dos juros”.

No entanto, acrescenta, que mesmo não subindo os juros, podemos esperar uma retórica hawkish por parte do organismo liderado por Chirstine Lagarde, deixando a porta aberta a uma subida para a próxima reunião.

Caso se confirme uma nova subida das taxas de juro, será a nona por parte do regulador europeu desde julho de 2022, depois de terem aumentado em 25 pontos-base na reunião do passado mês de junho.

 

O que esperar no futuro?

Apesar de se colocar em cima da mesa a possibilidade de uma paragem na escalada por parte do BCE, os especialista alertam para a alta inflação, que ainda está longe dos objetivos dos reguladores.

A inflação atingiu os 5,3% pelo segundo mês consecutivo em agosto, o que representa metade do nível recorde registado em outubro, mas ainda assim representa mais do dobro do objetivo de inflação do BCE.

Por sua vez, a inflação subjacente está a revelar-se ainda mais teimosa. Com 5,3%, está muito próximo do seu máximo histórico (5,7%) e ainda não mostrou uma tendência descendente convincente.

“Pelo bom senso e prudência os juros deviam continuar a subir até que exista efetivamente uma redução da inflação para valores sustentáveis, não é com 5.3% de inflação que se pode começar sequer a pensar em fazer uma pausa, quanto mais descida dos juros”, considera Mário Martins.

O analista da ActivTrades explica ainda que só uma recessão trará a inflação para valores admissíveis num prazo de tempo aceitável. Não podemos andar 3 a 5 anos para descer o patamar da inflação porque isso é francamente maligno para a sustentabilidade de qualquer economia”, sublinhou.

“Do outro lado estão alguns governos, como o português, que têm interesse (não assumido) em manter a inflação elevada, uma vez que diminui o rácio da dívida versus PIB e aumenta o montante dos impostos recolhidos”, remata.