Explicador: As taxas de juro vão descer novamente? BCE pode decidir hoje pelo segundo corte deste ano
O Banco Central Europeu (BCE) senta-se hoje para mais uma reunião de política monetária em que o mercado aguarda a segunda descida das taxas de juro do ano.
Em junho, assistimos à primeira descida das taxas de juro desde março de 2016, tanto para a taxa das operações principais de refinanciamento como para a taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez, enquanto para a taxa de depósito, foi a primeira redução desde setembro de 2019. Já na reunião do mês seguinte, a instituição liderada por Christine Lagarde colocou o pé no travão e manteve as taxas inalteradas.
“Espera-se que [o BCE] reduza as taxas em 25 pb [pontos-base], mas o foco estará nas pistas para a próxima reunião, especialmente tendo em conta o enfraquecimento do tom dos relatórios económicos provenientes da zona euro”, explica à Executive Digest Joana Vieira, partner da Ebury Portugal.
Ainda sobre a reunião, a Ebury considera que “há poucas dúvidas sobre o resultado da reunião”, e que “os mercados estarão interessados em ouvir a reação do banco central à recente deterioração dos dados económicos da Zona Euro”.
Os especialistas explicam que o mercado de trabalho continua a ser um ponto positivo, uma vez que os níveis de desemprego continuam a oscilar em torno de mínimos históricos, mas os números da produção industrial na Alemanha são muito fracos. As revisões das projeções elaboradas por especialistas do BCE para o crescimento e a inflação irão sintetizar a visão do BCE e fornecer indicações claras sobre se se deve esperar um corte na reunião de outubro.
Henrique Tomé, analista da XTB, partilha da mesma visão, confirmando que estará para hoje a segunda descida do ano em 25 pb. “Existem vários indicadores que têm apoiado estas decisões, como a inflação geral que continua a aproximar-se do objetivo de 2% do BCE, bem como o crescimento dos salários que também está a abrandar”, explica.
O especialista acrescenta ainda que, “tendo em conta a evolução dos indicadores económicos, ao facto da inflação estar a abrandar, mas ao mesmo tempo termos níveis de atividade económica muito fracos, devemos esperar uma retórica mais dovish por parte de Lagarde… Por um lado, é verdade que continua a existir alguma divisão entre os membros do BCE, mas por outro, é difícil estar indiferente aos sinais dos indicadores económicos sobre a Zona Euro que mostram sinais de alarme se os juros continuarem tão elevados durante mais tempo.
“Os dados de uma inflação global mais suave justificaram, até agora, a mexida pelo Banco Central Europeu (BCE), que foi o primeiro grande banco central a cortar neste ciclo”, afirma Michael Krautzberger, Diretor de Investimento Global em Obrigações, Allianz Global Investors (Allianz GI) acrescentando que esperam que o próximo corte de 25 pb aconteça hoje.
Para além disso, o especialista acredita que o BCE vai ajustar em baixa, ainda que ligeiramente, as suas projeções de crescimento e inflação para 2024 e 2025.
O que esperar até ao final do ano?
Henrique Tomé explica que estamos a entrar numa fase em que os Bancos Centrais estão a mudar as políticas monetárias e devemos esperar que as taxas de juro continuem a ser reduzidas, pelo menos mais 2 vezes este ano.
No entanto, alerta, “a dimensão dos cortes pode aumentar consoante os sinais que os indicadores económicos derem sobre as principais economias, pois poderão levar o BCE a estimular mais a economia. Por outro lado, se a inflação voltar a aumentar, o BCE deverá reajustar a sua política monetária, impedindo mais cortes na taxa de juro, algo que parece ser improvável acontecer no curto-prazo”.
Mais a longo prazo, a expectativa no mercado é de que o BCE promova uma redução agressiva nas taxas de juros nos próximos trimestres. Os economistas preveem que vá reduzir as taxas de juros em sete ocasiões até o início de 2026, com cortes de 25 pontos-base de cada vez.
De acordo com a última pesquisa realizada pela Bloomberg, o BCE deve manter a tendência de descida ao longo de um ano e meio, encerrando 2025 com uma redução total de 175 pontos-base em relação aos níveis atuais. Os analistas esperam que as taxas se estabilizem em 2,5% até o início de 2026.
Apesar de uma leve deterioração nas previsões de crescimento para a Zona Euro e uma probabilidade de 35% de recessão nos próximos 12 meses, os especialistas não ajustaram significativamente as suas estimativas para o PIB e o emprego. O crescimento do PIB da Zona Euro é agora projetado em 1,4% até o final de 2025, uma ligeira redução em relação à previsão anterior de 1,5%. A taxa de desemprego, por sua vez, deve manter-se em 6,4% até o final do próximo ano.
O BCE parece estar cada vez mais confiante em moderar a inflação e atingir a sua meta de médio prazo de 2%. A moderação nas expectativas de aumento de preços, juntamente com uma taxa de desemprego estável e um crescimento do PIB alinhado com as previsões, permitirá ao BCE acelerar a redução das taxas sem destabilizar a economia europeia.