Europa tem de se preparar para outro verão com temperaturas recorde: Portugal enfrenta risco ainda mais elevado de incêndios

A Europa tem de se preparar para um verão mais quente, sendo que os primeiros sinais são iminentes: de acordo com a previsão sazonal elaborada pelo Centro Europeu de Previsões de Médio Prazo (ECMWF), junho, julho e agosto têm uma probabilidade bem superior ao normal de se registarem temperaturas médias “bem acima da média”, especialmente em sul da Europa, como é o caso de Portugal, Espanha, Itália e Grécia.

De acordo com os meteorologistas da ‘Atmospheric G2’, o verão de 2024 poderá desafiar o calor do verão de 2022, que foi o mais quente registado na Europa até à data. No entanto, os espanhóis do ‘Aemet’ são mais cautelosos, sugerindo que o verão vai ser mais quente do que o normal – “há uma probabilidade muito elevada de entre 70% e 100%”, referiram – e haverá entre 50 e 70% de hipótese que seja um dos 20% mais quentes.

Na Península Ibérica, salienta o jornal espanhol ‘ABC’, a primeira subida das temperaturas foi notada este fim de semana, com registos entre 5 e 10 graus acima do normal, especialmente na metade sul. Também no norte da Europa, com a Alemanha, a Polónia e os países escandinavos na liderança, esta semana terá temperaturas invulgarmente elevadas para esta época do ano, podendo atingir os 28 graus.

De acordo com o climatologista Ricardo Trigo, esta será a repetição de uma tendência recente, pois “quase todos os últimos verões têm sido mais quentes, sobretudo se a média for relativa aos últimos 30 anos”, indica, em declarações ao ‘Diário de Notícias’. “Até 2010, os verões de 2003 e 2010 tinham sido os mais quentes de sempre, mas essa referência há muito que está ultrapassada, com 10 anos sempre a subir. A probabilidade de voltar a haver verões como há 50 ou mesmo 30 anos é praticamente nula”, refere o professor do Departamento de Geofísica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“A esta distância ainda não nos é possível fazer uma análise mais fina sobre se vão registar-se ondas de calor em Portugal”, aponta o investigador, salientando que é o que mais interessa às pessoas: como fator de risco acrescido para incêndios florestais. “O que causa mais dano não é um verão acima da média, mas vários dias seguidos de temperaturas extremas”, aponta.

E nesse propósito, o climatologista deixa o aviso: um fator que pode condicionar negativamente a época de incêndios é o facto de já terem passado sete anos desde os grandes fogos de 2017. “Foram muito demolidores, mas não deixaram material combustível para queimar. Passados estes anos, a vegetação já voltou a essas áreas, pelo que o risco é maior”, aponta, reforçando que é preciso esperar pelo fim de junho para se perceber como vai evoluir a temperatura média, bem como a precipitação – no entanto, alerta, o cocktail de temperaturas altas, evaporação, falta de água nos solos e seca, amplia as ondas de calor, que, por sua vez, podem potenciar incêndios mais severos.