Estudo revela presença de microplásticos perigosos associados a cancro e infertilidade em vários alimentos ‘fast-food’. O seu preferido está na ‘lista negra’?
Um novo estudo conduzido pela organização PlasticList identificou a presença de microplásticos, incluindo ftalatos e bisfenol A (BPA), em diversos alimentos de cadeias de fast food e supermercados nos Estados Unidos. Estes químicos, frequentemente associados a riscos de saúde como infertilidade, cancro e alterações neurológicas, foram encontrados em níveis preocupantes em produtos de marcas reconhecidas.
Entre as amostras analisadas, o “Chicken Pesto Parm Salad” da Sweetgreen e o “Matcha Latte” da Starbucks destacaram-se pelos níveis elevados de ftalatos, conhecidos como “químicos eternos” por não se degradarem facilmente no organismo. Cada porção destes produtos continha uma média de 0,05 mg de ftalatos, excedendo os valores considerados seguros por alguns especialistas, embora ainda dentro dos limites estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA).
Outros alimentos destacados no estudo incluem o cheeseburger da Shake Shack (0,04 mg por porção), o Whopper com queijo do Burger King (0,03 mg), o burrito de frango Cantina do Taco Bell (0,02 mg) e o cheeseburger “Animal Style” da In-n-Out (0,01 mg).
Impactos dos ftalatos na saúde humana
Os ftalatos, utilizados em embalagens alimentares para conferir maior flexibilidade ao plástico, têm sido amplamente estudados por imitar hormonas naturais, como o estrogénio e a testosterona, interferindo no equilíbrio hormonal. Segundo a Agência Europeia dos Produtos Químicos, estas substâncias podem afetar o desenvolvimento sexual masculino e causar infertilidade. Estudos em animais também demonstraram danos nos rins, fígado e testículos, além de maior propensão a alergias.
Darin Detwiler, especialista em segurança alimentar, alerta: “As crianças pequenas são particularmente sensíveis a estas exposições devido ao seu tamanho e fase de desenvolvimento. A acumulação crónica de pequenas quantidades ao longo do tempo representa um risco significativo.”
Presença de BPA também preocupante
Além dos ftalatos, o estudo revelou níveis alarmantes de bisfenol A (BPA) em vários produtos. Este químico, utilizado em plásticos e revestimentos de latas, esteve presente em 22 alimentos analisados, com alguns excedendo em até 32.571% os limites estabelecidos pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA).
Um dos piores exemplos foi o “Boba tea pearls” da cadeia Boba Guys, cuja quantidade de BPA correspondia a mais de um ano de consumo seguro para um adulto médio, segundo os padrões da EFSA. Outros produtos, como atum enlatado da marca Wild Planet e amostras de água da torneira, também apresentaram níveis significativos.
Atualização necessária nas normas de segurança
Os investigadores sublinham que os limites de segurança para estes químicos baseiam-se em estudos desatualizados, como a norma da EPA para o DEHP, que remonta a 1953. A equipa concluiu que é imperativo rever os padrões à luz de avanços científicos recentes.
“Os limites estabelecidos pelas diferentes agências contradizem-se, e muitos deles não consideram cenários reais, como misturas químicas,” afirmou um representante da PlasticList.
A exposição a estes químicos é especialmente preocupante para grávidas e crianças, uma vez que pode afetar o desenvolvimento neurológico e reprodutivo. Estudos associam a exposição pré-natal ao BPA a um risco seis vezes maior de diagnóstico de autismo em rapazes antes dos 11 anos.
Embora os níveis de ftalatos e BPA detetados ainda estejam dentro dos limites legais, os investigadores defendem que o impacto acumulativo destes químicos deve ser considerado, especialmente em populações mais vulneráveis.
A organização PlasticList apela a uma maior fiscalização da indústria alimentar e recomenda estudos adicionais para compreender os efeitos das misturas químicas em cenários reais. “Precisamos de uma abordagem mais robusta para proteger a saúde pública e limitar a exposição a químicos prejudiciais nos alimentos,” concluiu a equipa.