Estado Rico, Povo Pobre!

Por Ricardo Florêncio

Portugal é dos países da Europa com maior carga fiscal. E os últimos estudos disponibilizados comprovam esta situação. Muito se fala sobre este tema, e compara-se com outros países, embora apenas se esteja a comparar um lado da equação. Pois, quando colocamos na balança, o que o Estado recebe versus o que o Estado dá aos seus contribuintes e cidadãos, verificamos que a diferença é abissal.

Quando tentam camuflar esta situação, com comparações de taxas e contribuições, com os países do norte da Europa, esquecem-se da componente do estado social desses países, que são muito mais retributivos em relação à sociedade em geral.

Não sendo assim a nossa realidade, chegamos à conclusão que devemos ter um Estado rico. E, na verdade, verificando o que se tem passado nas últimas décadas, leva-nos a esta conclusão. Os milhares de milhões que o Estado tem injectado, dado, financiado, perdoado, a um conjunto de situações, desde a banca, passando por várias empresas de diversos sectores, autênticos elefantes brancos, aterrando agora na TAP (e voltaremos à TAP noutra altura), verificamos que estamos a falar de dezenas e dezenas de milhares de milhões de euros.

Contudo, no outro lado da balança, verificamos que nos últimos anos o nosso o PIB não tem crescido, ou tem sido muito ténue e, assim, estamos consistentemente a cair no ranking do PIB (nomeadamente nos países da UE), e cada vez mais na cauda da Europa, ou seja, mais pobres. Temos assim um Estado rico, mas um Povo pobre!

Bem sei que os portugueses têm uma visão do Estado muito estranha, pois sempre que falam do Estado, nomeadamente quando se fala destes investimentos, financiamentos, injecções, perdões, etc., parece que estão a falar de uma entidade estranha, quase endeusada, que vive no Olimpo, uma fonte inesgotável de recursos. Mas convém não esquecer que o Estado é o conjunto de todos nós. O Estado é o conjunto dos cidadãos. As receitas do Estado provêem dos diversos impostos pagos. E temos todos o direito de saber, de ter conhecimento, de que formas são os nossos impostos aplicados, gastos, investidos

Editorial publicado na revista Executive Digest nº 177 de Dezembro de 2020