Estado perde milhões de euros com venda de carros usados por ‘falsos particulares’, denuncia setor

A crise dos semicondutores criou uma oportunidade para o setor dos automóveis usados. Impedidos de comprar carros novos, devido à falta de componentes, os consumidores viram-se para os veículos em segunda mão, por norma, como menos de três anos.

A crise veio ainda acelerar uma situação de fraude à lei: a existência de ‘falsos particulares’ , indivíduos que vendem cerca de dez automóveis por ano e que não pagam impostos, já que, apesar de atuarem como verdadeiras empresas do setor, não estão registadas enquanto tal, pelo que não prestam a fatura devida ao Estado.

Contactada pela Executive Digest, a Associação Portuguesa de Comércio Automóvel explica que “há milhares e milhares de falsos particulares, tendo este número aumentado brutalmente com a crise dos chips”.

Para além disso, o setor alerta para o facto destes “falsos particulares” não prestarem “quaisquer garantias, já que não sendo empresas constituídas não o têm de fazer”.

Assim, a APDCA defende a criação de uma “carteira profissional, já que a obrigatoriedade da mesma credibilizaria o setor e protegeria efetivamente os interesses de todas as partes envolvidas. Além de diminuir o risco de fraude fiscal e a consequente perda de receitas para o Estado”.

A organização já enviou uma carta para todas as bancadas parlamentares com representação na Assembleia da República “uma carta de sensibilização para o tema e para a necessidade de encetarem uma iniciativa parlamentar que possa levar à implementação da mesma o quanto antes”, explica a associação.

O mercado de usados está a bater “recordes”. Os portugueses tinham pedido, até agosto, 1025 milhões de euros emprestados para comprar carros usados, 75% deste crédito foi aplicado na compra de carros usados, de acordo com as estatísticas da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC), citadas pelo Correio da Manhã CM).

“O total de empréstimos para a compra de automóveis em segunda mão ultrapassou, nos oito primeiros meses, o valor de 2020 em 148 milhões de euros, mas inferior ao de 2019 para o mesmo período”, acrescenta o CM.

No que toca aos veículos ligeiros novos, foram emprestados 219 milhões de euros, uma queda de 23 milhões de euros em termos homólogos.