Entrada de cocaína em Portugal pelo PCC ganha destaque na imprensa internacional: agente infiltrado da PJ é protagonista em história do maior cartel sul-americano
Um polícia infiltrado da Polícia Judiciária, nomeado ‘Agente Tango’, operou no submundo do tráfico marítimo de drogas como ‘Miguel’: a história foi partilhada pelo jornal espanhol ‘ABC’, que revelou que ‘Miguel’ recebeu uma oferta praticamente irrecusável em Albufeira, no Algarve – não a aceitou de imediato, pediu uns dias para pensar antes de seguir em frente: três traficantes do PCC, o maior cartel sul-americano, oferecem um milhão de euros para o transporte de uma tonelada de cocaína da costa de Cabo Verde para Lisboa.
O tribunal de Faro autorizou ‘Tango’ a realizar a operação: ‘Miguel’ disse que sim aos traficantes, para ver até onde o cartel iria. Um dos supostos traficantes, Gabriel C., está ansioso, quer que alguém pegue no carregamento e o leva para Portugal – oferece o pagamento imediato do custo da viagem, 120 mil euros.
Ao mesmo tempo, um navio pesqueiro zarpa do Brasil para a ilha africana, segundo se lê no auto de acusação emitido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Criminal (DCIAP), com um carregamento de 41 fardos de cocaína.
Na Gare do Oriente, em Lisboa, Gabriel C. Sérgio J. e Fabrício B., “todos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC)”, tiram de um Audi negro uma bolsa de plástico com 60 mil euros e bilhetes que entregam a ‘Tango’.
Gabriel C. promete pagar o resto do dinheiro quando um navio sair de Portugal para receber o que vem do Brasil. Nessa noite, um barco de pesca encomendado pelo agente da polícia portuguesa zarpa da costa de Sesimbra: ‘Tango’ fica por terra, mas um elemento do cartel, não identificado no caso, sobe a bordo para escoltar o transporte da tonelada da cocaína para Portugal.
O pesqueiro viaja para Cabo Verde e ‘Tango’ entra no Burger King de Sesimbra para recolher o resto do dinheiro: Yosef, um argelino estabelecido em Sevilha, o homem que faz a ponte entre o agente infiltrado e Gabriel C entrega a ‘Tango’ um saco de papel da FNAC com cerca de 60 mil euros.
Dez dias depois, concentram-se todos na agência do Novo Banco, na Avenida Columbano Bordalo Pinheiro, em Lisboa, e deslocam-se a um hotel próximo para acompanhar o transbordo da cocaína por telefone. Era já de madrugada, “por volta das 3 horas”, quando as embarcações comunicaram que o transbordo estava concluído. Os 41 fardos de cocaína seguiam em direção a Portugal.
Após dez dias de viagem, o barco de pesca chega ao porto algarvio. ‘Tango’ filma os fardos de cocaína que estão no barco, bem como o ‘sicário’ do cartel – o “encarregado de executar rivais ou traidores que se cruzam no seu caminho” e que acompanhou a viagem – e envia o vídeo para Gabriel C.
A 13 de março, ‘Tango’ regressa a Albufeira e se reúne novamente com os membros do cartel, que lhes dão as chaves de um Nissan Qashqai e dizem para ele tirar da bagageira uma mala com 500 mil euros. Dois dias volvidos, em Vale Paraíso, em Albufeira, os protagonistas voltam a encontrar-se num café. Um camião com registo croata estava pronto para carregar a cocaína e levá-la para a Europa Central, via Barcelona – o motorista croata, Igor J. trabalha para a máfia dos Balcãs.
‘Tango’ viria a levar o camião para um lugar seguro, onde tinha escondida a cocaína, carregou os 41 fardos no veículo, antes de voltarem para o café, altura em que surgiu a polícia portuguesa que deteve todos os elementos.
Portugal entrou na rota do tráfico de drogas da América Latina. De acordo com o último ‘relatório mundial sobre cocaína 2023’, publicado pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime, há duas estradas principais para a entrada de cocaína na Europa Ocidental e Central: uma delas é a costa e os portos de Portugal e Espanha. O relatório indicou que a localização de Portugal – e sua longa costa atlântica – faz do país “um ponto natural de chegada de cocaína”.