Ensaio Renault Zoe 240: Autonomia reforçada

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Os veículos elétricos são já uma visão comum no quotidiano, sendo cada vez em maior número os condutores que aderem a esta tecnologia, mais amiga do ambiente ao eliminar as emissões poluentes para a atmosfera. Com efeito, entramos já na segunda leva de modelos elétricos desde que em 2010 começaram a surgir como aposta de algumas marcas. Os novos modelos revelam-se mais eficientes, como é o caso deste Renault Zoe que recebeu no decurso de 2015 uma atualização técnica cuja grande novidade é a melhoria da autonomia.
Parece igual. O que muda?
Pois parece e isso porque as mudanças estão escondidas. Grande precursor da estratégia de Zero Emissões da Renault, este modelo conta como atributo principal com um novo motor elétrico de maior capacidade que lhe permite apresentar uma autonomia estimada de 240 quilómetros, naquela que é uma melhoria ligeira mas importante face aos anteriores 210 quilómetros apontados pela marca gaulesa para o Zoe. Trata-se de um motor elétrico síncrono de 65 kW (equivalente a 88 cv) e 220 Nm de binário, sendo alimentado por uma bateria de iões de lítio de 22 kWh situada sob o piso do habitáculo para melhor distribuição de peso e centro de gravidade mais baixo.

A grande novidade deste modelo em relação ao anterior é, assim, um motor mais compacto que reivindica mais autonomia, melhor rendimento (graças a uma gestão eletrónica diferente) e menor tempo de carregamento, devido à evolução feita no sistema Camaléon (Camaleão). A este propósito, o sistema de gestão de carga, denominado ‘Power Electronic Controller’, foi renovado, necessitando agora de menos tempo na rede doméstica (tanto de 3 kW como de 11 kW) para carregar as baterias. As dimensões do motor, das unidades de controlo de potência e do sistema de carregamento foram igualmente reduzidas, permitindo assim ganhos no peso e na eficiência.
Em números, são precisas cerca de oito horas numa simples tomada doméstica de 3 kW (com wallbox) para que o modelo fique com as suas baterias 100% carregadas, embora na prática isso possa levar um pouco mais de tempo, a rondar as nove horas. Nos postos públicos, a carga rápida continua a ser uma funcionalidade aceite pelo Zoe, restabelecendo até 80% da carga da bateria em postos de 22 e de 43 kW, levando entre 30 minutos e uma hora para atingir aquele valor de carga.
Como se conduz?
Contrariando qualquer tipo de preconceito, conduzir um veículo elétrico assume hoje uma grande naturalidade, ainda que ao condutor seja imposta uma nova mentalidade (talvez associada à ausência de ruído de motor…). Ou seja, de forma natural, o próprio condutor altera o ‘chip’ mental e passa a guiar de forma tranquila e eficiente, evitando acelerações bruscas ou pronunciadas. Assume-se um ‘jogo’ de poupança, intervalado a espaços com a necessidade de retomar o ritmo de forma lesta, algo que o Zoe permite com facilidade. Também é possível repor alguma da carga da bateria elétrica através da recuperação de energia cinética, tanto de desaceleração como de travagem, sobretudo em modo ECO, no qual as funcionalidades de eficiência são reforçadas.
De resto, as acelerações são vigorosas até aos 50-60 km/h, aparentando elevada desenvoltura em tráfego urbano. A ‘responsabilidade’ é dos 220 Nm de binário disponibilizados pelo motor elétrico logo a partir do arranque, que tornam este Renault num ‘sprinter’ dos semáforos. É a partir dos 90 km/h que o Zoe começa a acusar algumas dificuldades, mais no fator de autonomia do que de prestações. Porque quanto maior a velocidade, maior o dispêndio de energia das baterias elétricas e consequente redução da autonomia. Ainda assim, jogando com o relevo natural e com o acelerador, é possível ser-se poupado q.b. em autoestrada, por vezes não gastando mais de 4 kW.

Acaba por ser uma premissa muito semelhante à dos veículos a combustão comuns – quanto mais se acelera, mais combustível se gasta – mas no caso dos elétricos entra em equação a denominada ‘ansiedade de autonomia’, ou seja, a ansiedade relativa ao ‘desaparecimento’ exagerado de quilómetros de autonomia. A este respeito, os 240 quilómetros serão muito difíceis de atingir, seja pela condução, seja pela própria temperatura ambiente, fazendo com que a autonomia real ronde, essencialmente, os 160 ou 170 quilómetros.
Volte-se à condução. O modo ECO é o mais adequado para utilização quotidiana, promovendo uma maior eficiência do ar condicionado e do próprio motor, cuja entrega da potência fica mais comedida. Rápido q.b., o Zoe acaba por ser um modelo indicado para quem tem uma vida primordialmente urbana, sem exceder os 40 ou 50 quilómetros diários. Na prática, se percorrer os tais 40 quilómetros diariamente, não existe uma necessidade constante de estar a ligar o veículo à tomada, até porque a regeneração da energia vai ajudando nesse propósito.
O comportamento do Zoe pende essencialmente para o conforto, com neutralidade na abordagem às curvas, não obstante a artificialidade da direção, atributo que também é extensível ao tato dos travões, devido ao sistema de regeneração da energia.

No interior, prima a simplicidade visível nos mais diversos elementos: tablier, consola central e até mesmo nos bancos dianteiros, que não contam com regulação em altura (uma vez que as baterias vão montadas sob o piso, recorde-se). Assim, a posição de condução é elevada, bem como a de todos os ocupantes, facilitando a visibilidade para todos os pontos em redor do Zoe. Predominam os plásticos na generalidade do habitáculo, mas a montagem merece nota positiva. O espaço a bordo permite acolher quatro adultos (está homologado para cinco, mas a largura não é a mais convidativa para tal), sendo que atrás a amplitude para os joelhos dos passageiros poderia ser melhor, o mesmo se podendo dizer da altura, fruto das baterias sob o piso que eleva o posicionamento dos bancos posteriores.
Em termos de funcionalidades, destaque para o enorme ecrã TFT do painel de instrumentos e para o ecrã de 7 polegadas da consola central do Renault R-Link, onde se concentram os vários sistemas de controlo e visualização do funcionamento do sistema elétrico. Por seu lado, o painel de instrumentos muda de cor de fundo em função do estilo de condução (Normal e ECO).

Por fim, há que ir a contas e perceber a mais-valia de um elétrico, além da vertente ambiental: de acordo com a marca, o novo Zoe 240 necessita de uma verba entre 1,20 e 1,50 euros (tarifa bi-horária) por cada 100 km de distância que efetua. Além disso, beneficia ainda de um enorme impulso na forma do incentivo do Estado ao abate de veículos com mais de dez anos, no valor de 4500 euros, para aquisição de automóveis elétricos, além de isenção no IUC e ISV, pelo que os 21.280 euros pedidos para a versão de entrada Life poderão ficar muito mais em conta com um valor em redor dos 16.000 euros. Nota, no entanto, para a necessidade de alugar as baterias, num valor que é de 79 euros por mês (de base).
VEREDICTO
Entre os elétricos atualmente à venda no mercado, o Renault Zoe assume-se como um dos mais interessantes, ao propor a funcionalidade de um utilitário como o Clio num invólucro ambientalmente responsável e mais evoluído em termos técnicos. O novo motor R240, produzido agora pela própria marca francesa, concede ao Zoe mais-valias renovadas em termos de autonomia, provando que esta é uma tecnologia em constante evolução. Se for um dos milhões de portugueses que percorre cerca de 40 ou 50 quilómetros diariamente e se pretende ajudar o ambiente, o Zoe pode ser um passo no sentido certo, ainda que as viagens mais longas tenham de ser repensadas.
FICHA TÉCNICA
Renault Zoe 240

Equipamento de série:
Airbags dianteiros, laterais e de cortina
ABS
Controlos de Estabilidade e de Tração
ISOFIX
Hill holder
Modo de condução ECO
Ar condionado
Vidros elétricos
Espelhos retrovisores elétricos
Volante ajustável em altura e profundidade
Comandos no volante
Cruise control
Sistema de navegação GPS integrado no R-Link
Sistema áudio com entrada USB e quatro altifalantes
Bluetooth
Sensores da pressão dos pneus