“Empresas com alta maturidade em sustentabilidade alcançam receitas até 9% superiores às dos seus concorrentes”, garante Cristina Castanheira Rodrigues
À medida que o mundo enfrenta desafios ambientais cada vez mais urgentes, a sustentabilidade tornou-se uma prioridade inegável para as empresas em todos os setores.
Em entrevista à Executive Digest, Cristina Castanheira Rodrigues, Administradora-Delegada da Capgemini Portugal, falou sobre a importância da sustentabilidade para as organizações, e do papel das novas tecnologias no avanço das práticas sustentáveis.
Como vê o papel das grandes empresas na promoção da sustentabilidade em escala global?
O papel das grandes empresas na promoção da sustentabilidade é de grande importância, superando muitas vezes a capacidade de outras entidades institucionais em moldar o mundo. A sua grande capacidade de influência é fundamental para a mudança, nomeadamente, no que diz respeito à capacidade de influenciar o comportamento dos seus stakeholders condicionando, significativamente, o seu impacte em diversas áreas. A sua grande capacidade de influência é fundamental para a mudança, nomeadamente, no que diz respeito à capacidade de influenciar o comportamento dos seus stakeholders condicionando, significativamente, o seu impacte em diversas áreas.
Muitas das grandes empresas já promovem ativamente a sustentabilidade junto dos seus fornecedores, que são muitos e com grande capacidade de influência. Para além disso, possuem recursos consideráveis para investir em pesquisa e incentivos ao desenvolvimento de tecnologias e práticas que podem ser usados de forma a promover a sustentabilidade nas diversas iniciativas levadas a cabo. Estas iniciativas podem incluir o desenvolvimento de novas fontes de energia renovável, a criação de produtos com menor pegada ambiental e a implementação de processos de produção mais eficientes em termos de recursos, mas também novas estruturas e políticas organizacionais e iniciativas com vista ao aumento da biodiversidade entre outras.
Quais são os principais desafios enfrentados pelas empresas atualmente ao tentar alcançar metas ambiciosas de sustentabilidade?
Penso que o principal desafio é o de as empresas passarem a envolver a sustentabilidade no seu negócio, percebendo, e fazendo todos os seus stakeholders perceber, que a mesma faz parte duma nova perspetiva de negócio, mais competitiva, e a única que permite assegurar o futuro do planeta, tal como o conhecemos.
O assumir deste posicionamento leva a desafios como o comprometimento/ disponibilidade financeira necessária para implementar práticas e tecnologias sustentáveis, mudanças culturais requeridas para adotar uma mentalidade sustentável e a complexidade regulatória/ legal ao lidar com uma variedade de regulamentações ambientais. Isto para além da integração de cadeias de fornecimento sustentáveis, a definição de métricas adequadas de avaliação, o envolvimento de todos os stakeholders nas decisões e a adoção de tecnologias inovadoras, entre outras iniciativas são várias vertentes cruciais para um posicionamento que permita fazer face aos inúmeros desafios da sustentabilidade.
Como é que as empresas podem equilibrar as suas metas de sustentabilidade com as necessidades do mercado e as expectativas dos acionistas?
É um equilíbrio desafiante e nem sempre fácil, mas acredito que as empresas podem equilibrar as suas metas de sustentabilidade através de uma abordagem integrada que envolva comunicar claramente os benefícios de médio/longo prazo da sustentabilidade aos acionistas e outros stakeholders relevantes, alinhar as metas de sustentabilidade com as necessidades do mercado e as tendências emergentes, incluindo a integração de considerações ambientais, sociais e de governança (ESG) nas operações e estratégias de negócios.
De acordo com o estudo “A World in Balance: Porque ambições de sustentabilidade não são traduzidas em ações”, feito pelo Capgemini Research Institute, as empresas com alta maturidade em sustentabilidade alcançam receitas até 9 pontos percentuais superiores às dos seus concorrentes. Numa visão de médio/longo prazo, acreditamos que a sustentabilidade e as métricas financeiras terão de andar de mãos dadas, consubstanciando e permitindo gerir e medir os benefícios do impacte positivo criado na sociedade, nomeadamente através da melhoria da eficiência operacional e energética que terá um relevante impacte na preservação e regeneração do meio ambiente.
Quais são os principais pilares da abordagem de sustentabilidade da Capgemini?
Na Capgemini somos guiados por princípios que orientam as nossas ações e projetos em todo o mundo. Em relação ao meio ambiente, por exemplo, nossa meta é atuar nas mudanças climáticas sendo net zero business até 2040, além de apoiar a transição económica de baixo carbono, ajudando os nossos clientes a cumprirem os seus compromissos ambientais – queremos ajudar os nossos clientes a reduzir 10 milhões de toneladas de CO2e até 2030. No pilar social, temos como objetivo desenvolver os nossos talentos, priorizando a diversidade e a inclusão. Do ponto de vista da governança, procuramos manter os altos padrões éticos, além de proteger e assegurar a proteção de dados, infraestrutura e identidade.
Como é que os colaboradores da Capgemini são envolvidos e incentivados a promover boas práticas de sustentabilidade?
Os colaboradores da Capgemini são desafiados a incorporar os valores da sustentabilidade nas suas tarefas diárias quantificando o impacte da elaboração das propostas, o da sua implementação (apostando em soluções e processos sustentáveis) e os benefícios para o cliente em termos de sustentabilidade. Isto para além do desafio de identificação de soluções a propor aos clientes que lhes possam conferir maior sustentabilidade e consequentemente maior competitividade.
Para além disso, através de ações de responsabilidade social, como a Impact Together Week, a participação em programas de sensibilização e de formação regulares, entre outras iniciativas os colaboradores da Capgemini são incentivados a reduzir o consumo de recursos, a reconhecer práticas e iniciativas sustentáveis e a integrar metas ambientais nos objetivos individuais e da equipa. Para que todos estes desafios sejam uma realidade apostamos fortemente na formação na área da sustentabilidade de uma forma transversal a toda a equipa.
Como é que a tecnologia pode ser uma aliada no avanço das práticas sustentáveis dentro das organizações?
A tecnologia não pode, é, e terá que ser, necessariamente, uma aliada nas práticas sustentáveis das organizações, nomeadamente, ao permitir a monitorização e otimização eficiente do consumo de recursos, facilitar a transição para energias renováveis, automatizar processos para reduzir desperdícios e possibilitar a análise de dados para tomada de decisões mais sustentáveis.
Sem o uso da tecnologia não será possível atingir os objetivos sustentáveis a que nos propomos. Esta afirmação é suportada em vários estudos e informação da qual destacamos as declarações do World Economic Forum que no seu relatório, mais recente, relativo aos ODSs aponta para o papel chave da tecnologia para atingir os mesmos.
Em Janeiro de 2024 as conclusões do estudo ‘The Eco-Digital Era™: The dual transition to a sustainable and digital economy’ realizado em colaboração pelo Digital Value Lab do Digital Data da Capgemini e o Design Institute de Harvard indica que a implementação de tecnologias digitais permitiu às organizações reduzir um quarto do seu consumo de energia e reduzir 21% as emissões do GEEs, nos últimos 5 anos. Neste estudo é apresentado o termo economia eco-digital que permite entregar valor, não apenas económico, mas também ambiental e social, chamando a atenção para que o crescimento da adoção digital vai promover o desenvolvimento económico tendo a sustentabilidade como âncora.
Este estudo refere ainda a importância de tecnologias como a IA e a biologia sintética para a criação de novos modelos de negócio da era eco-digital que segundo 60% das empresas inquiridas terão maior rentabilidade que os modelos de negócio tradicionais.
Tendo em conta os exemplos e factos referidos anteriormente, que não são extensivos, fica evidente que a tecnologia e as práticas sustentáveis são parceiras naturais e essenciais para que tenhamos um futuro promissor quer dos negócios que do planeta onde estes possam ter lugar.
Na sua opinião, qual é o maior desafio global que precisa ser enfrentado para alcançar um futuro mais sustentável e como é que as empresas podem contribuir para superá-lo?
Um futuro mais sustentável implica que os recursos existentes sejam usados de uma forma mais eficiente para que possam ser suficientes para o crescimento populacional previsto. Temos que ser mais eficientes e fazer mais com menos para que cheguem para todos sem consumir recursos que não devemos e que afetam o bem-estar de todos.
Assim, um dos maiores desafios globais para alcançar um futuro mais sustentável é a mitigação das mudanças climática, sem que isso prejudique o crescimento, o que implica maior eficiência. As empresas podem contribuir significativamente para superar esse desafio através da redução das emissões de carbono nas suas operações e cadeias de fornecimento, investindo em energia renovável, adotando práticas de negócios mais sustentáveis e apoiando iniciativas de inovação e tecnologia verde.
Além disso, as empresas devem advogar por políticas ambientais mais rigorosas e colaborar com outras organizações, governos e sociedade civil para impulsionar ações coletivas em direção a um futuro mais sustentável e resiliente para todos. Para que as empresas possam crescer fazendo face a todos estes desafios é preciso uma visão global que permita ter em conta os recursos globais nas decisões tomadas para o crescimento económico, quer por empresas, quer pelos governos, quer pelas pessoas.
É bom não esquecermos que com as nossas decisões, do dia a dia, podemos mudar o mundo, quer como consumidores, quer como gestores ou qualquer outra função que tenhamos na sociedade. O grande desafio é pois, que sejamos capazes de, em todas as decisões que tomamos, ter em conta o interesse comum para uma eficiente utilização dos recursos (cada vez mais escassos).