Embaixador alemão nos EUA alerta para plano de Trump: “Quer redefinir a ordem constitucional”

O embaixador da Alemanha nos Estados Unidos alertou que a nova administração Trump vai roubar a independência às autoridades policiais e aos media americanos e entregar às grandes empresas tecnológicas “poder de co-governação”, denunciou esta segunda-feira a agência ‘Reuters’.

No documento informativo, do passado dia 14 e assinado pelo embaixador Andreas Michaelis, foi descrita a agenda de Donald Trump para o seu segundo mandato na Casa Branca como uma “de perturbação máxima”, que trará “uma redefinição da ordem constitucional – concentração máxima de poder com o presidente a expensas do Congresso e dos estados federais”.

“Os princípios democráticos básicos e os pesos e contrapesos serão em grande parte minados, a legislatura, a aplicação da lei e os meios de comunicação serão privados da sua independência e usados ​​​​indevidamente como um braço político, a Big Tech receberá o poder de co-governo”, apontou Michaelis.

Recorde-se que este domingo, a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, disse que Berlim “continuaria a trabalhar em estreita colaboração com os EUA, mas é claro que também queremos continuar a defender os nossos próprios interesses”. Quando questionada para explicar a posição do seu embaixador, Baerbock salientou que Michaelis estava apenas a fazer o seu trabalho e que Trump tinha declarado abertamente grande parte da sua agenda.

O embaixador destacou ainda o poder judicial, e especialmente o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, como central nas tentativas de Trump de promover a sua agenda, salientando que, apesar da recente decisão do tribunal de expandir os poderes presidenciais, “até os maiores críticos assumem que isso impedirá que o pior aconteça”.

Para atingir os seus objetivos políticos e pessoais, Michaelis referiu que o controlo do Departamento de Justiça e do FBI é fundamental, para as deportações em massa, retribuição contra supostos inimigos e impunidade legal – apontou mesmo que Trump tem amplas opções legais para impor a sua agenda aos estados, dizendo que “até o envio militar dentro do país para atividades policiais seria possível no caso de ‘insurreição’ e ‘invasão’ declaradas”.

Michaelis prevê ainda uma “redefinição da Primeira Emenda”, dizendo que Trump e o bilionário proprietário do X, Elon Musk, já estão a tomar medidas contra os críticos e as empresas de comunicação social não cooperantes. “Um está a recorrer a ações judiciais, a ameaçar com processos criminais e a revogação de licenças, o outro está a manipular algoritmos e a bloquear contas”, pode ler-se no documento.