Em que países da Europa há maior taxa de sobrevivência ao cancro?
As estimativas de sobrevivência ao cancro na Europa são o reflexo das disparidades geográficas e económicas no Velho Continente: em 2021, o cancro foi a segunda principal causa de morte na UE, respondendo por 1,1 milhões de fatalidades, o que representou 21,6% de todas as mortes no espaço europeu naquele ano.
No entanto, as estimativas de sobrevivência variam significativamente dependendo do tipo de cancro e do país. Por sobrevivência, refere-se à proporção de indivíduos diagnosticados que permanecem vivos após um período especificado, sendo que comummente expressa como sobrevida de entre 1 e 5 anos. De acordo com a ‘Euronews Health’, a sobrevivência ao cancro em toda a Europa deve-se a vários fatores que contribuem para as disparidades entre os países.
Mortalidade relacionada ao cancro na Europa
De acordo com dados da OCDE e do Eurostat de 2019, o cancro de pulmão foi responsável por 24% das mortes relacionadas ao cancro entre homens e 15% entre mulheres. O cancro colorretal contribuiu com 12% para ambos os sexos. Já o cancro da próstata representou 10% das mortes entre os homens, enquanto o cancro de mama foi responsável por 16% entre as mulheres.
A sobrevivência no cancro do pulmão varia significativamente em toda a Europa, com a Bulgária na extremidade inferior (7,7%) e a Suíça e a Letónia na extremidade superior (20,4%), enquanto a média da UE-24 é de 15%. Portugal surge com 15,7%.
Outros países com números de sobrevivência notáveis incluem Islândia (20,2%), Áustria (19,7%), Suécia (19,5%) e Noruega (19%).
Na extremidade inferior, depois da Bulgária (7,7%), os menores resultados de sobrevivência são observados na Lituânia (9,9%), Croácia (10%), República Checa (10,6%) e Roménia (11,1%).
A sobrevivência ao cancro de cólon variou de 51,1% na Croácia a 72,1% em Chipre, com a média da UE-24 em 60%. Portugal registou 60,9%.
A sobrevivência atingiu 65% ou mais em seis países adicionais, incluindo quatro nações nórdicas: Islândia (68,2%), Bélgica (67,9%), Suíça (67,3%), Noruega (66,7%) e Suécia e Finlândia com 64,9%.
Na extremidade inferior do espectro, Eslováquia (51,8%), Romênia (52,2%), Bulgária (52,4%) e Polônia (52,9%) seguiram a Croácia na parte inferior do ranking.
A sobrevivência do cancro de próstata é maior quando comparada a muitos outros tipos de cancro. A média da UE-24 é de 87%, com 12 países a atingirem níveis de sobrevivência acima de 90%. Chipre relatou a maior sobrevivência, com 99,2%, seguido pela Lituânia (94,3%) e Bélgica (93,8%). Portugal apresentou 90,9%.
A menor taxa de sobrevivência foi observada na Bulgária, com 68,3%, enquanto Polónia, Romênia e Eslováquia registaram estimativas abaixo de 80%.
A sobrevivência ao cancro de mama também é relativamente alta, com a média da UE-24 em 82%. Chipre lidera o ranking com uma sobrevivência de 92,8%, seguido de perto por quatro países nórdicos, excluindo a Dinamarca. Portugal surge com 87,6%.
Entre as cinco maiores economias europeias, a diferença na sobrevivência é mínima, variando de 85,2% em Espanha a 86,7% em França – já a Lituânia e Roménia registaram a menor taxa de sobrevivência, ambas abaixo de 75%.
A sobrevivência continua criticamente baixa para cancro de pâncreas e fígado
A sobrevivência de cancro de pâncreas e fígado na UE continua muito baixa em comparação com muitos outros tipos de cancro. No pâncreas, a sobrevivência variou de 5,5% em Malta a 13,7% na Letónia, com a média da UE-24 em aproximadamente 9%. O Reino Unido teve a sexta menor sobrevivência em 6,8%, sendo que Portugal registou 10,7%.
Já a sobrevivência ao cancro de fígado variou de 4,2% na Estónia a 20,7% na Bélgica, com uma média aproximada de 12% na UE-24. Mais uma vez, o Reino Unido relatou a menor taxa de sobrevivência neste tipo, com 13%, enquanto a Itália ficou em segundo lugar, com 20,3%. Portugal surgiu com 18,7%, a terceira taxa mais elevada da UE.
Por que a sobrevivência varia entre os tipos de cancro?
“São doenças muito diferentes”, disse Michel Coleman, co-investigador principal da equipa analítica central da CONCORD e professor na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, em entrevista à ‘Euronews Health’. “Dependendo de onde o cancro ocorre e do tipo de órgão próximo, eles são mais ou menos letais, dependendo do tipo de célula, da composição genética e dos órgãos próximos”, observou, salientando que um tumor que surge no cérebro tem mais probabilidade de matar alguém do que um que surge no pé.
No entanto, a lacuna de sobrevivência não se deve somente às diferenças entre as doenças. Outros fatores incluem variações na disponibilidade e no avanço dos tratamentos, bem como o estágio em que o cancro é diagnosticado, explicou Coleman. “Se for muito precoce e localizado, é lógico que a sobrevivência será melhor com um determinado tratamento do que se a sobrevivência estiver muito avançada e disseminada quando for diagnosticado.”
Sobre as diferenças nas estimativas de sobrevivência entre os países, Coleman ofereceu duas explicações principais. Primeiro, relacionado com as diferenças nessa idade de diagnóstico, que são enormes influências na probabilidade de sobrevivência. O estágio varia amplamente entre os países para qualquer cancro. Em segundo lugar, a disponibilidade e o acesso a diferentes tratamentos mais ou menos eficazes também variam entre os países.
“Por exemplo, a radioterapia, que é usada ou é significativa como um tratamento potencialmente curativo para quase metade de todos os cancros, está muito mais amplamente disponível nos países mais ricos da Europa Ocidental e do Norte do que nos países menos avançados da Europa Oriental e, em alguns casos, do Sul”, apontou.