Duas em cada três empresas está contra a semana de quatro dias de trabalho
Um inquérito realizado pela Associação Industrial Portuguesa – Câmara de Comércio e Indústria (AIP-CCI), revela que 70% das empresas em Portugal discordam da implementação da semana de quatro dias. Por outro lado, entre os 30% que concordam com a medida, 71% defendem que esta não deveria ter carácter obrigatório.
O Inquérito de Contexto Empresarial sobre o Mercado Laboral, que abrangeu 523 empresas de diversos setores e dimensões, destaca ainda outras questões sensíveis no mercado laboral. Por exemplo, 70% das empresas consideram que decisões relacionadas com carreiras, benefícios, remunerações complementares e limites de horas extraordinárias deveriam ser discutidas internamente, e não em convenções coletivas de trabalho (CCT). Esta opinião é particularmente forte entre micro e pequenas empresas.
Sobre o banco de horas individual, 71% das empresas são a favor, e 74% destas defendem que este deve ser implementado por acordo interno.
O inquérito revelou que o modelo presencial continua a dominar, sendo adotado por 81% das empresas, enquanto 17% funcionam em regime híbrido e apenas 2% em teletrabalho. Entre as empresas que adotaram modelos híbridos ou remotos, 73% afirmam que esta mudança trouxe melhorias na produtividade e 84% planeiam manter esta organização.
Relativamente ao Salário Mínimo Nacional (SMN), 83% das empresas concordam com a sua existência. No entanto, 65% acreditam que o SMN não deve ser usado como um instrumento de redistribuição de riqueza. Entre as empresas que apoiam o uso do SMN para este fim, 45% sugerem que os custos deveriam ser cobertos pela sociedade, através de impostos negativos, enquanto 55% defendem que os encargos devem ser suportados pelas empresas.
Sobre o aumento do SMN para 1.020 euros até ao final da legislatura, 56% das empresas consideram o valor suportável, embora 95% afirmem desconhecer estudos que comprovem essa viabilidade no seu setor. Além disso, 65% das empresas acreditam que o aumento do SMN deveria estar condicionado à evolução da produtividade.
O “direito a desligar” divide as empresas: 50% apoiam a medida, enquanto a outra metade é contra. A rejeição é mais evidente em médias e microempresas. Quanto à comunicação obrigatória deste direito à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), 86% das empresas discordam do procedimento.
Já a auto declaração de doença é rejeitada por 55% das empresas, apesar de 89% afirmarem que situações de abuso foram inexistentes ou muito pouco frequentes.
O inquérito foi conduzido entre 12 de outubro e 11 de novembro de 2024, abrangendo empresas de todas as regiões do país. A amostra incluiu 47% do setor industrial, 26% de serviços, 14% de comércio, 7% de construção, 3% de agricultura, 2% de alojamento e restauração, e 1% de transportes e armazenagem.
Das empresas inquiridas, 49% são exportadoras, com a região Centro a representar 32% da amostra, seguida pela Área Metropolitana de Lisboa (26%) e pelo Norte (24%).