Ozempic: Infarmed aperta cerco ao uso de medicamentos da diabetes para perda de peso
O Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, revelou estar a intensificar a monitorização da disponibilidade de medicamentos antidiabéticos, particularmente os agonistas dos recetores GLP-1, como Semaglutido, Dulaglutido, Liraglutido e Exenatido. Este acompanhamento surge em resposta à escassez global destes fármacos, assim como de outros da mesma classe terapêutica, e à crescente dificuldade no acesso a sensores de medição de glicémia.
As farmácias em Portugal venderam, em média, mais de 33 mil embalagens mensais de semaglutido em 2024, substância ativa presente no Ozempic, conhecido pelo seu efeito de emagrecimento, embora esteja indicado para o tratamento da diabetes tipo II. De acordo com dados do Infarmed, as vendas deste medicamento aumentaram 10,7% em relação a 2023, resultando em listas de espera e rupturas de stock durante o verão.
O Infarmed atribui a escassez à elevada prescrição e aos constrangimentos na capacidade de produção, agravados pelo uso indevido do medicamento para fins estéticos de emagrecimento. Este fenómeno tem sido amplamente divulgado nas redes sociais e nos media, com consequências sérias para a saúde pública, segundo a Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
O Infarmed está a atuar em coordenação com a EMA e as autoridades congéneres da União Europeia para assegurar a disponibilidade dos medicamentos e sensores necessários à gestão da diabetes. A autoridade nacional iniciou um processo de auditorias e inspeções em janeiro de 2025, abrangendo toda a cadeia de fornecimento dos medicamentos, desde os fabricantes até ao sistema de saúde.
Além disso, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) comparticipa em 90% os medicamentos desta família apenas para doentes com diabetes tipo II não controlada e obesidade moderada a grave. A prescrição destes medicamentos dispõe de um alerta no sistema de prescrição eletrónica para garantir que são usados exclusivamente nas indicações financiadas, um mecanismo que será estendido aos sensores de glicose intersticial.
Os antidiabéticos representam a classe terapêutica com maior impacto financeiro no SNS. Entre janeiro e outubro de 2024, a comparticipação destes medicamentos custou ao Estado mais de 342 milhões de euros, representando 24,6% da despesa pública total com medicamentos. O Ozempic sozinho custou 33 milhões de euros, um aumento de 7% em relação ao mesmo período de 2023, sendo o quinto medicamento mais dispendioso no país.