
Dia Mundial do Trabalho Digno: Qual a importância de um salário justo? Quais os motivos de insatisfação? Como está Portugal?
Assinala-se hoje o Dia Mundial pelo Trabalho Digno, uma data que visa sensibilizar para a importância de condições laborais adequadas e justas para todos os trabalhadores.
Dados recentes da OIT revelam que, embora o número de trabalhadores que vivem em extrema pobreza tenha diminuído rapidamente após 2020, cerca de 1 milhão de trabalhadores entraram novamente nessa categoria em 2023. Além disso, 8,4 milhões de pessoas passaram a viver em pobreza moderada, definidas como aqueles que ganham menos de 3,30 euros por dia, de acordo com os números da Nações Unidas.
As desigualdades persistem entre países de diferentes rendimentos, com taxas de desemprego que rondam os 4,5% em países de rendimentos altos e 5,7% em países de rendimentos baixos. A situação das mulheres no mercado de trabalho é particularmente preocupante, pois embora a participação delas tenha recuperado rapidamente, a disparidade de género continua a ser significativa, especialmente em países emergentes.
Mas, o que é um salário digno? De acordo com o Movimento Salário Digno, uma iniciativa do Pacto Global da ONU, é uma “remuneração recebida por uma semana de trabalho por um trabalhador, suficiente para arcar com um padrão decente de vida para o trabalhador e para a sua família. Elementos de um padrão de vida decente incluem alimentação, água, habitação, educação, saúde, transporte, vestuário e outras necessidades essenciais, incluindo a provisão para eventos inesperados”.
Salários em Portugal
Portugal continua a ser o 5.º país da União Europeia com o salário médio mais baixo, com sectores como a agricultura, pescas, alojamento e restauração a destacarem-se pelas remunerações inferiores.
Segundo dados da Pordata, o salário médio dos trabalhadores portugueses foi de 1.368 euros em 2022, um valor que, considerando o custo de vida, coloca o país acima apenas da Eslováquia, Grécia, Hungria e Bulgária. Comparativamente, os salários em Espanha são, em média, um terço mais elevados do que os praticados em Portugal, evidenciando a desproporção nas remunerações entre os dois países vizinhos.
Além disso, o relatório da Pordata aponta que o salário mínimo nacional português, ao ser considerado em paridade de poder de compra, está entre os 10 mais baixos de 22 países da União Europeia. Em 20 anos, Portugal viu-se ultrapassado pela Polónia, Lituânia e Roménia em termos de salário mínimo, que é 26% inferior ao de Espanha e 47% ao de França. Esta situação agrava-se ao observar que a proporção entre o salário mínimo e o salário médio tem vindo a aumentar, passando de 43% em 2002 para 52% em 2022.
Os dados também revelam que Portugal apresenta uma elevada taxa de contratos a prazo, com 17,4% dos trabalhadores nesta situação, colocando o país em terceiro lugar na Europa.
Enquanto isso, a força laboral portuguesa está a envelhecer, com cerca de metade dos trabalhadores entre os 44 e 64 anos. Apesar de Portugal ter superado a meta de emprego da União Europeia para a população entre os 20 e 64 anos, a estrutura salarial e a instabilidade laboral continuam a ser questões prementes que necessitam de atenção.
Insatisfação dos trabalhadores portugueses
De acordo com o estudo “O Estado da Compensação”, elaborado pela Coverflex, relativo a 2023, 65% dos portugueses não estão satisfeitos com a sua compensação salarial e 67,3% das pessoas em regime remoto ou híbrido não têm acesso a qualquer remote budget.
Os dados mostram ainda que mais de 5 em cada 10 pessoas (56,5%) que trabalham em regime presencial estão insatisfeitas com o seu modelo de trabalho, face a apenas 28,7% das pessoas que trabalham em híbrido e 11,9% dos que estão em teletrabalho.
As mulheres são as mais insatisfeitas neste campo, sendo que apenas 37% das inquiridas disse sentir-se satisfeita por trabalhar presencialmente, face a 50% dos homens.
No que respeita aos horários de trabalho, apenas 46% das pessoas que trabalham em regime presencial, consideram o seu horário Muito Flexível ou Flexível, face a 84% das pessoas em teletrabalho e 80% das pessoas em regime híbrido.
No que respeita ao salário, o setor da Comunicação, Marketing e Publicidade é onde se registaram maiores níveis de insatisfação, com apenas 22% das pessoas a responder positivamente. Por outro lado, no setor das Tecnologias de Informação são os que mais consideram a sua compensação salarial justa face ao seu trabalho, com 42,5% a dizerem estar satisfeitos com a compensação
E a insatisfação com o salário aumenta substancialmente no grupo dos colaboradores que não têm acesso a benefícios flexíveis, revela o estudo.