“Dia do Polutocrata”: Os 1% mais ricos do mundo esgotaram em 10 dias o seu orçamento anual de carbono para 2025, denuncia associação

Os chamados “1% das pessoas mais ricas” já ultrapassaram a sua quota-parte do orçamento global de carbono para 2025… isto quando vamos apenas no dia 10 de janeiro, apontou uma análise da ‘Oxfam’, que denunciou os “estilos de vida luxuosos” dos super-ricos como responsáveis por alimentar a crise climática.

A organização contra a pobreza e a desigualdade declarou esta sexta-feira como o “Dia do Polutocrata”. “O futuro do nosso planeta está por um fio. A margem de manobra é mínima, mas os super-ricos continuam a desperdiçar as oportunidades da humanidade com os seus estilos de vida luxuosos, as suas carteiras de ações poluentes e a sua influência política perniciosa”, acusou Nafkote Dabi, líder da ‘Oxfam International’ para a política de alterações climáticas. “Isto é roubo – puro e simples – um pequeno grupo que rouba o futuro a milhares de milhões de pessoas para alimentar a sua ganância insaciável.”

Quem são os 1% mais ricos?

A análise da ‘Oxfam’ apontou a quantidade de CO2 que pode ser adicionada à atmosfera sem ultrapassar os 1,5°C de aquecimento: com a população mundial a atingir os 8,5 mil milhões de pessoas em 2030, o estudo calculou que uma “quota-parte justa” de emissões de CO2 compatíveis por pessoa é de 2,1 toneladas por ano.

No entanto, os 1% mais ricos da população estão a emitir cerca de 76 toneladas de CO2 por ano: são 77 milhões de indivíduos, incluindo multimilionários, milionários e aqueles que ganham mais de 140 mil dólares (136 mil euros) anualmente em termos de paridade do poder de compra (PPC).

Uma investigação anterior da ‘Oxfam’ concluiu que esta minoria rica foi responsável por 15,9% das emissões globais de CO2 em 2019. Os 50% mais pobres foram responsáveis por apenas 7,7% de todas as emissões nesse ano: enquanto os super-ricos atingiram o seu limite de 2025 em 10 dias, alguém da metade mais pobre da população global levaria quase três anos para usar a sua parte do orçamento anual de carbono global.

Para atingir o objetivo de 1,5°C, a ‘Oxfam’ concluiu que o 1% mais rico precisa de reduzir as suas emissões em 97% até 2030. “Os Governos têm de deixar de ser condescendentes com os mais ricos. Os poluidores ricos têm de ser obrigados a pagar pela destruição que estão a causar no nosso planeta”, apontou Dabi. “Tributem-nos, limitem as suas emissões e proíbam as suas indulgências excessivas – jatos privados, super-iates e afins. Os líderes que não agem estão efetivamente a escolher a cumplicidade numa crise que ameaça a vida de milhares de milhões de pessoas.”

Estes apelos à ação são cada vez mais fortes, vindos de vários quadrantes. O G20 discutiu um imposto global mínimo de 2% sobre os cerca de 3 mil bilionários do mundo. Apesar do apoio de França, Espanha e outros países à proposta do Brasil no ano passado, o chamado “imposto bilionário” enfrentou resistência na última reunião no Rio, em novembro.