Défice mundial de emprego atinge 402 milhões em 2024

O défice mundial de emprego (pessoas que querem trabalhar, mas não conseguem) atingiu 402 milhões em 2024, ano em que a taxa de desemprego global se manteve em 5%, indicou hoje a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

No seu relatório anual sobre o emprego e as perspetivas sociais, a organização alertou que a força de trabalho só cresceu graças ao aumento da população ativa e também para a persistência de uma elevada taxa de desemprego juvenil, que se situou em 12,6% a nível mundial, e recordou que 240 milhões de trabalhadores em todo o mundo, 7% do total, sofrem de “formas extremas de pobreza laboral”.

Os 402 milhões de pessoas que constituem o défice de mão-de-obra incluem 186 milhões de desempregados, 137 milhões de “trabalhadores desencorajados” que não conseguem encontrar trabalho e 79 milhões que também gostariam de fazer parte da força de trabalho, mas não podem devido a certas obrigações, como cuidar de outras pessoas.

O fosso entre empregados e desempregados tem vindo a diminuir gradualmente desde a pandemia, mas deverá estabilizar nos próximos dois anos, que estão repletos de incertezas, alerta a OIT.

“As tensões geopolíticas, os custos crescentes das alterações climáticas e os problemas de endividamento estão a colocar os mercados de trabalho sob pressão”, resume a agência num relatório, que adverte também que, embora as pressões inflacionistas tenham diminuído, os salários reais aumentaram apenas em algumas economias avançadas.

A OIT alerta também para o aumento do número de jovens que não estudam nem trabalham, com mais um milhão de homens nesta situação do que no ano anterior (num total de 85,8 milhões, 13,1% do total) e mais 1,8 milhões de mulheres (num total de 173,2 milhões, 28,2%).

As taxas são ainda mais elevadas nos países de baixos rendimentos, onde a percentagem de jovens que não estudam nem trabalham entre o número total de jovens é de 20,4% entre os homens (15,8 milhões) e de 37% entre as mulheres (28,2 milhões), sublinha a organização com sede em Genebra.

O relatório sublinha as novas oportunidades oferecidas pelo desenvolvimento dos setores ambiental e digital no mundo do trabalho, depois de, por exemplo, os empregos no domínio das energias renováveis terem aumentado para 16,2 milhões em todo o mundo, impulsionados pelo investimento na energia solar e no hidrogénio.

No entanto, observa a OIT, estes empregos estão distribuídos geograficamente de forma desigual, com a maioria dos novos empregos a serem criados na América do Norte e na Ásia Oriental (e 46% do total só na China).

Do mesmo modo, as tecnologias digitais oferecem oportunidades, mas muitos países “não dispõem das infraestruturas e das competências necessárias para tirar pleno partido destes desenvolvimentos”, refere o relatório da OIT.

O relatório também chama a atenção para as más condições de trabalho e as oportunidades limitadas de desenvolvimento pessoal que rodeiam muitos empregos nas plataformas digitais e de dados, algo observado, por exemplo, no Sudeste Asiático, onde esses empregos são cada vez mais recorrentes como uma forma ocasional de rendimento.

O organismo que rege as relações laborais a nível mundial está empenhado em responder a estes desafios, aumentando a produtividade global através do investimento em formação e infraestruturas, alargando o acesso à segurança social e a condições de trabalho mais seguras e utilizando eficazmente os fundos privados para reinvestir no emprego.

Neste último caso, os países de baixo rendimento podem tirar partido das remessas e dos fundos da diáspora para apoiar o desenvolvimento local, recomenda a OIT.

“Para evitar exacerbar a coesão social já em tensão, os crescentes impactos climáticos e o aumento da dívida, temos de agir agora para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e criar um futuro mais justo e sustentável”, resume o diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo.