De supercombustível a energia inútil: Hidrogénio verde vai do céu ao inferno e perde corrida energética

Era conhecido como um supercombustível capaz de descarbonizar grandes setores da economia, mas agora o hidrogénio verde enfrenta agora desafios significativos. Os objetivos para 2030 parecem cada vez mais distantes.

As previsões iniciais indicavam um aumento na procura de hidrogénio, de praticamente zero para 800 milhões de toneladas anuais até 2050. A maior parte desta quantidade seria de hidrogénio verde, produzido pela eletrólise da água com eletricidade renovável, enquanto uma pequena parte seria de hidrogénio azul.

Contudo, para alcançar as metas de zero emissões líquidas até 2050, o mundo precisaria de produzir cerca de 70 milhões de toneladas anuais de hidrogénio verde até 2030, conforme sugerido pela Agência Internacional de Energia em 2021. Só a Europa estabeleceu uma meta de 20 milhões de toneladas por ano.

O entusiasmo inicial galvanizou o setor, com promotores a anunciar projetos, fabricantes de equipamentos a comprometerem-se a reduzir preços, e políticos a prometer grandes subsídios. No entanto, uma análise recente mostra que o setor enfrenta sérios desafios financeiros. O custo dos primeiros projetos de hidrogénio aumentou significativamente, em alguns casos até duplicando, e os subsídios governamentais não têm sido suficientes para impulsionar o crescimento necessário, revela o ‘Cinco Dias’.

Michael Liebreich, da Liebreich Associates, estima que os subsídios desembolsados até 2030 somarão cerca de 200 mil milhões de dólares, enquanto seriam necessários entre 2 e 4 biliões de dólares para atingir as metas estabelecidas.

Além dos desafios financeiros, surgem dúvidas sobre a real utilidade do hidrogénio verde. Tecnologias baseadas em eletricidade, como baterias eletrotérmicas e bombas de calor, emergiram como opções viáveis em setores onde se esperava que o hidrogénio tivesse um papel de liderança. Se essas previsões se concretizarem, o papel do hidrogénio em 2050 pode limitar-se a 350 milhões de toneladas anuais, menos da metade das estimativas mais otimistas.

Atualmente, a produção de hidrogênio verde é insignificante, com menos de 0,1 milhão de toneladas por ano. A maioria do hidrogénio usado é da variedade cinza, extraído do gás natural. Os projetos de hidrogénio verde em operação são, na maioria, pilotos ou de demonstração.

Mesmo com uma previsão mais modesta de 350 milhões de toneladas anuais até 2050, o mercado futuro de hidrogénio precisaria mais do que triplicar a quantidade atualmente utilizada.