De fanáticos a tradicionais e alguns ‘casos clínicos’: conheça o novo gabinete de Trump
Donald Trump já escolheu o seu gabinete para o segundo mandato na Casa Branca: desde fanáticos até republicanos tradicionais, passando mesmo por alguns ‘casos clínicos’, indicou esta terça-feira o jornal espanhol ‘El Mundo’.
A pessoa mais poderosa é mesmo a mais discreta: Susie Wiles é a chefe de gabinete de Trump, e o presidente eleito ‘deve-lhe’ o regresso à Casa Branca, uma vez que dirigiu a sua campanha eleitoral. Tem mais poder do que qualquer outro, incluindo Elon Musk, apesar de não fazer tweets ou aparecer na televisão. Isto não só porque é o chefe de gabinete que controla, em teoria, a agenda e as reuniões do seu chefe, mas também por ser, provavelmente, a única pessoa do planeta que Trump costuma ouvir.
Susie Wiles é também a primeira mulher a servir como chefe de gabinete da Casa Branca, o que expõe uma característica da Administração Trump: a sua diversidade. No novo Executivo americano estará o hispânico com maior posição na História dos Estados Unidos – Marco Rubio, secretário de Estado, o que o coloca na quarta posição na sucessão do presidente -, a segunda pessoa casada com alguém do mesmo sexo desde que fundou o país – Scott Bessent, secretário do Tesouro -, e o membro mais poderoso da cada vez mais influente comunidade indiana nos EUA – Kash Patel, diretor do FBI. Por último, um muçulmano, Mehmet Oz, será responsável pelos sistemas de saúde público-privados que cobrem 42% da população.
A Administração Trump terá mais mulheres do que a de Obama – e, sobretudo, muitos jovens. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, tem 27 anos, o que faz dela a pessoa mais nova a ocupar o cargo. O quase certo secretário da Defesa, Pete Hegseth, tem apenas 44 anos, pouco mais do que Donald Rumsfeld quando em 1974 se tornou o mais jovem a alcançar esse cargo. Aos 40 anos, JD Vance será o terceiro vice-presidente mais jovem da história dos EUA – desde George Bush pai, há 36 anos, que não havia um gabinete tão jovem na Casa Branca.
O gabinete podia ser dividido em três grupos: os fanáticos, os tecnocratas e os ‘casos clínicos’. Os primeiros são os mais comprometidos ideologicamente com Trump e serão responsáveis pela imigração, Justiça e segurança interna. Quase todos trabalharam no primeiro mandato do presidente. É provável que os seus deveres incluam a aplicação da lei de forma especialmente dura contra os inimigos políticos de Trump.
Neste grupo destaca-se Stephen Miller, o vice-procurador-geral, que ficará encarregue, juntamente com Tom Homan, da política de deportação, que se concentrará nas grandes cidades democráticas – isto porque se fosse realizado em zonas rurais afetaria diretamente a economia de muitos eleitores de Trump. Miller é o arquiteto da separação de famílias de imigrantes indocumentados levada a cabo no primeiro mandato de Trump, que resultou em centenas de menores que perderam para sempre a possibilidade de se reunirem com as suas mães. Defendeu na televisão a afirmação de Trump de que os imigrantes “estão a envenenar o sangue do nosso país”.
Nesta mesma categoria está a procuradora-geral, Pam Bondi, embora neste caso seja uma pessoa mais discreta do que a primeira escolha de Trump para o cargo, Matt Gaetz. E também Patel, um dos arquitetos da tentativa de golpe de Trump após a sua derrota eleitoral em 2020 – o facto ir liderar o FBI, que é a principal força policial nacional dos EUA, não parece enquadrar-se particularmente bem num Estado de Direito.
Na política económica, Trump seguiu a regra do seu primeiro mandato, ao nomear financiadores bilionários de Wall Street cuja principal missão será realizar cortes de impostos. Entre eles destaca-se Bessent, que, curiosamente, passou grande parte da sua carreira como braço-direito de George Soros, uma das ‘bestas negras’ da extrema-direita trumpista. Outra personagem relevante será Howard Lutnick, que disputou com Bessent a direção do Tesouro, mas teve de se contentar com o cargo de secretário do Comércio.
À frente das agências reguladoras e das áreas do Departamento de Justiça que tratam da concorrência, Trump colocou pessoas com um perfil técnico. O objetivo é eliminar a polícia anti-trust de Biden, dominada pela ala esquerda do Partido Democrata, preço que a senadora Elizabeth Warren, que está inserida nesta corrente ideológica, exigiu em troca do seu apoio às iniciativas legislativas do presidente.
Marco Rubio está na mesma linha do republicanismo tradicional, embora neste caso não seja de todo claro se terá poder de decisão fora da política para a América Latina. E também o secretário da Energia, Doug Burgum.
Mais incerto é o papel do conselheiro de Segurança Nacional Michael Waltz e do diretor da CIA John Ratcliffe, que têm pouca experiência nestas áreas. Embora ninguém supere o novo secretário de Defesa, Pete Hegseth, comentador televisivo e major da Guarda Nacional, sem qualquer experiência em gestão ou em políticas de serviço público, mas que vai estar à frente de um ‘monstro’ que emprega três milhões de pessoas.
Hegseth é a transição perfeita para o terceiro grupo, o dos ‘casos clínicos’ que ninguém consegue explicar como foram nomeados. Três personagens destacam-se: uma é a ex-congressista democrata Tulsi Gabbard, uma defensora assumida de Putin e da invasão russa da Ucrânia que foi nomeada nada mais nada menos do que diretora da Inteligência Nacional.
O segundo é Robert F. Kennedy, anti-vacinas e um destacado defensor de teorias da conspiração – como a de que a Covid-19 foi concebida para respeitar os asiáticos e os judeus – a quem Trump quer nomear secretário da Saúde. E o terceiro é Mehmet Oz, que é também outra personalidade televisiva que abraçou diferentes teorias pseudo-científicas e não tem experiência na gestão de agências estatais que irão gerir os sistemas de saúde público-privados Medicare e Medicaid, que abrangem 140 milhões de americanos.