Crise financeira de 2008 e pandemia separadas por disparo de empréstimos concedidos a empresas

A crise das dívidas soberanas, no âmbito da crise financeira de 2008 e a pandemia são separadas por uma maré de empréstimos, com duas dinâmicas distintas que explicam a natureza das duas crises.

Enquanto entre 2010 e 2012 “o empréstimo típico” caiu em 6%, depois da pandemia este mesmo tipo de crédito ascendeu em 11%, revela o Boletim Económico do Banco de Portugal (BdP) publicado esta quinta-feira, tendo por base os dados apurados entre 2008 e 2021 do Central de Responsabilidades de Crédito (CRC) da mesma instituição.

Créditos: Banco de Portugal
Créditos: Banco de Portugal

Como explica a instituição financeira liderada por Mário Centeno, “no primeiro caso a crise é de natureza financeira, com uma elevada escassez
de liquidez e um aumento das restrições financeiras. Na crise pandémica, a política monetária e as medidas de apoio governamentais, nomeadamente as moratórias e as linhas de crédito com garantia pública, permitiram que as condições de financiamento se mantivessem favoráveis”.

Na crise das dívidas soberanas, a diminuição no montante do “empréstimo típico” foi observada em todas as classes de dimensão das empresas, e principalmente nas empresas de menor dimensão. No período da crise pandémica observa-se um aumento generalizado nos montantes dos “empréstimos típicos” das várias dimensões de empresa, principalmente nas empresas de pequena dimensão.

A maior queda na margem bruta das empresas de menor dimensão e a maior facilidade de obtenção de crédito através das linhas de crédito dirigidas às PME favoreceram a procura e a disponibilidade de crédito para estas empresas.

Nas empresas dos setores mais afetados o montante do “empréstimo típico” estimado aumentou 15% face ao quarto trimestre de 2019, enquanto nos restantes setores aumentou 9%.

Para o BdP, “esta diferença pode ser parcialmente explicada pelo facto de algumas das linhas de crédito com garantia pública só estarem disponíveis para os setores mais afetados e por estes terem maior necessidade de crédito”.

O aumento verificado nas empresas dos setores menos afetados está influenciado pelo recurso às moratórias, que foi superior nestas empresas.

Em períodos de crise as condições de acesso ao mercado de crédito podem ser particularmente difíceis para as novas empresas. No caso das novas empresas (empresas com menos de 3 anos), a mediana dos empréstimos concedidos  em cada trimestre reduziu-se 21%, de forma muito menos acentuada do que durante a crise das dívidas soberanas (-77%).