Covid-19 está a ativar vírus ‘adormecidos’ no organismo, revela nova investigação
Imagine-se o seguinte cenário: um doente apanha Covid-19, e recupera. Mas ao fim de uns meses ainda sente tonturas, problemas respiratórios, cansaço e fadiga, ou perturbações no sono. Covid longa, dir-se-ia à primeira vista. Mas a realidade é que pode não ser bem assim: um estudo científico veio revelar a capacidade do SARS-CoV-2 de reativar alguns ‘reservatórios’ de vírus anteriormente vencidos pelo organismo, e levar ao Síndrome de Fatiga Crónica.
Os investigadores encontraram vírus do herpes, como o Epstein-Barr, um dos que cau mononucleose, a circular em pacientes não-vacinados que tiveram Covid-19. Nos pacientes com síndroma de fadiga crónica, as respostas de anticorpos foram mais fortes, o que dá sinal de que o sistema imunitário está a ter dificuldades em combater os vírus que permanecem no organismo.
Serão estes agentes patogénicos, que não o coronavírus que causa a Covid-19, os responsáveis por causarem a encefalomielite miálgica. Este problema, que não tem uma causa definitiva, gera sintomas como fadiga e cansaço, ‘nevoeiro’ no cérebro, tonturas quando em movimento e perturbações no sono (acorda cansado à mesma). Os sintomas são em tudo semelhantes a Covid longa
Em outubro, alguns cientistas teorizaram que, como a Covid causa uma grande pressão sobre o sistema imunitário, permite que outros vírus latentes sejam reativados pelo stress no organismo e voltem a circular – vírus ligados aos sintomas da síndrome de fadiga crónica e da Covid longa.
Assim a Covid longa pode não ser na realidade uma ‘peça’ nova no jogo, mas sim uma doença pós-viral que se sobrepõe à síndrome da fadiga crónica, como verificado em alguns pacientes que ficaram doentes no surto de Ébola, a SARS em 2003-2004 e outras infeções virais.
No entanto, ainda são poucos os hospitais que testa de forma rotineira os pacientes Covid e Covid longa para vírus latentes. “Se um paciente não responder ao tratamento é que testaremos talvez para outras coisas. Há uma forte possibilidade de a Covid estar a enfraquecer os sistemas imunitários de muitas pessoas. Mas acho que a imunodeficiência, quando está lá, causa estes vírus a reemergir”, considera Panagis Galiasatos, professor assistente na Universidade de John Hopkins, nos EUA, e especialista em Covid longa.
Os investigadores norte-americanos não têm ainda a certeza de alguns vírus latentes, incluindo potencialmente o SARS-CoV-2, podem ter no desenvolvimento da Covid longa. Mas, por agora, os especialistas afastam a preocupação com a proximidade das duas doenças, já que, ainda que os sintomas de ambas possam ser tratados, não há um tratamento específico ou uma cura para a doença, já que a causa ou causas continuam desconhecidas.
Ainda assim, a Universidade de Stanford, no Reino Unido, está a preparar um estudo baseado na mesma teoria de que a Covid longa é causada pela reativação de ‘reservatórios’ de SARS CoV-2, e irá testar se o medicamento antiviral Paxlovid ajuda a aliviar os sintomas da Covid longa, através da eliminação desses reservatórios de vírus.