Cotação do trigo em mínimos com mais oferta mas preço final pode manter-se

O trigo perdeu quase metade do seu valor nos mercados internacionais, após os máximos verificados na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, devido ao aumento da oferta e esta situação poderá manter-se, segundo os analistas consultados pela Lusa.

Apesar da descida na cotação do trigo, os analistas dividem-se quanto à sua repercussão no preço final para o consumidor.

“Depois dos máximos históricos atingidos há dois anos, após a invasão russa da Ucrânia, o preço do trigo já perdeu quase metade do seu valor nos mercados internacionais, cotando atualmente ligeiramente acima dos seis dólares cada, 60 libras/peso, ou seja, à volta dos 27,2kg” (quilogramas), apontou, em resposta à Lusa, o economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa.

À semelhança do que aconteceu com o trigo, a cotação do milho e da soja também atingiu mínimos de 2020.

Paulo Monteiro Rosa diz ser “provável que haja um abrandamento do preço do trigo nos armazenistas”, o que se irá refletir no retalho e, em particular, nos derivados do trigo, como o pão.

“Eventualmente, esta descida dos preços de alguns cereais deve ter um impacto favorável na desaceleração da inflação, tendo impulsionado nos últimos dois anos a alta significativa dos preços dos alimentos”, acrescentou.

Para o economista sénior do Banco Carregosa, caso não haja um agravamento das tendências geopolíticas, o preço do trigo poderá manter-se em baixa.

Esta tendência poderá ainda ser agravada, se a procura, “apesar de inelástica, diminuir diante de alguma perceção de recessão no horizonte”.

De acordo com a corretora Xtb, no início de junho, 6% do trigo de inverno dos EUA estava colhido, acima da média dos últimos cinco anos, “enquanto o estado das culturas de trigo de inverno está num máximo de três anos”.

Por outro lado, a Ucrânia manteve a sua previsão de colheita de cereais, apesar do mau tempo registado em maio.

A Xtb sublinhou ainda, em comunicado, que a volatilidade de junho “pode ser ainda maior”, com a divulgação dos inquéritos sobre as colheitas do Mar Negro e de outras regiões.

Ainda assim, a corretora perspetiva que o preço do trigo pode vir a recuperar a curto prazo.

O consultor da ActivTrades Marco Silva apontou, por seu turno, que a descida da cotação do trigo foi influenciada pela “oferta sustentável no mercado”, que foi favorecida pelo acordo de exportação da Ucrânia, “que permitiu fomentar a oferta no mercado global”.

A principal consequência desta situação, segundo o consultor, é a estabilização dos preços dos produtos derivados de trigo.

Os restantes cereais também deverão ser, “ligeiramente”, afetados, mas não tanto quanto foram no início da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Esta tendência deverá manter-se, a menos se existir uma disrupção na produção.

Contudo, o preço para o consumidor não deverá sofrer alterações.

“As empresas foram rápidas na subida dos preços, mas não houve uma correção no mercado quando registaram uma queda nos preços do trigo. Por este motivo, dificilmente existirá uma descida dos preços dos produtos finais”, concluiu Marco Silva.

A Lusa contactou a Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas Oleaginosas e Cereais (ANPOC) e a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), mas não obteve resposta.

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