‘Coração das Festividades’: Especialistas alertam para problema de saúde que surge nesta época devidos aos excessos

Nesta época do ano, marcada por festas de Natal, reuniões com amigos e encontros familiares, o consumo excessivo de álcool torna-se mais comum. Contudo, após alguns copos a mais, surgem sintomas preocupantes: batimentos cardíacos rápidos ou irregulares, sensação de palpitações no peito ou no pescoço, tonturas ou falta de ar. Para muitos, a preocupação é suficiente para os levar às urgências, onde acabam diagnosticados com arritmia cardíaca induzida pelo álcool, conhecida também como “coração das Festividades” (holiday heart syndrome).

Este fenómeno, embora especialmente comum durante a quadra festiva, pode ocorrer em qualquer altura do ano, sendo frequentemente associado ao consumo excessivo de álcool, alimentação exagerada, desidratação e níveis elevados de stress, fatores típicos desta época.

um artigo, publicado no The Conversation, Caleb Ferguson, professor de enfermagem e diretor de Inovações em Saúde na Universidade de Wollongong, e Sabine Allida, investigadora na mesma instituição, detalham os riscos e mecanismos deste problema de saúde.

O que é o “coração das festividades”?
O conceito de holiday heart foi descrito pela primeira vez nos anos 1970, quando médicos observaram casos de arritmia cardíaca em pessoas saudáveis, sem histórico de doença cardíaca, após episódios de consumo excessivo de álcool, principalmente aos fins de semana e feriados. Apesar da associação óbvia com a época festiva, esta condição pode ocorrer em qualquer altura do ano, afetando não só os que bebem ocasionalmente em excesso, mas também aqueles que consomem álcool em grandes quantidades de forma prolongada.

Como é que o álcool afeta o coração?
O álcool afeta o coração, os vasos sanguíneos, o sangue e o sistema nervoso de várias formas. A ingestão excessiva pode causar desidratação e inflamação, interferindo no sistema elétrico do coração e levando a batimentos irregulares.

Os sintomas mais comuns incluem palpitações, dor no peito, desmaios (síncope) e dificuldade em respirar (dispneia). Contudo, nem todos os casos apresentam sintomas visíveis. Em algumas situações, a arritmia é descoberta acidentalmente durante exames de rotina ou na investigação de outros problemas de saúde.

Diagnóstico e avaliação médica
Se surgirem sintomas preocupantes, é essencial procurar assistência médica imediata. O diagnóstico é feito através de uma série de testes, com destaque para o ECG (eletrocardiograma), um exame simples e não invasivo que monitoriza o ritmo cardíaco. Durante o exame, são colocados elétrodos no peito, braços e pernas para registar os sinais elétricos do coração.

Segundo Caleb Ferguson e Sabine Allida, os clínicos observam em particular a onda P do eletrocardiograma, que representa a ativação elétrica das cavidades superiores do coração. Além disso, podem ser pedidos exames de sangue para verificar os níveis de eletrólitos (minerais essenciais no sangue), bem como marcadores de inflamação, coagulação e função renal e hepática.

A gravidade do problema e riscos associados
A maioria dos casos de “coração das festas” resolve-se sem complicações graves, especialmente se for detetado precocemente e se o consumo de álcool for interrompido ou reduzido. No entanto, há situações em que o diagnóstico evolui para fibrilhação auricular, a arritmia cardíaca mais comum entre adultos, afetando entre 1,4% a 5,5% da população australiana, conforme citado pelos autores.

A fibrilhação auricular pode exigir tratamentos adicionais, como:

  • Medicamentos para restaurar o ritmo cardíaco (cardioversão química);
  • Cardioversão elétrica, que utiliza um desfibrilhador para aplicar um choque elétrico ao coração;
  • Ablação cardíaca, um procedimento mais complexo para corrigir problemas no sistema elétrico do coração.
  • Se não for tratada, a fibrilhação auricular aumenta significativamente o risco de coágulos sanguíneos, acidente vascular cerebral (AVC) e enfarte do miocárdio.

Como prevenir?
Não existe um número exato de bebidas capaz de desencadear o problema, mas as diretrizes sugeridas recomendam não exceder quatro bebidas padrão num único dia e limitar o consumo semanal a dez bebidas padrão, tanto para homens como para mulheres.

Para prevenir o “coração das festas”, os autores aconselham:

  • Evitar o consumo excessivo de álcool;
  • Intercalar as bebidas alcoólicas com água, para minimizar a desidratação;
  • Manter uma dieta equilibrada e rica em alimentos benéficos para a saúde do coração;
  • Reduzir o stress e praticar exercício físico regular.

Nesta época festiva, a moderação no consumo de álcool e os cuidados com a saúde são essenciais para evitar surpresas indesejadas. Como concluem os especialistas Caleb Ferguson e Sabine Allida, tomar medidas simples, como manter-se hidratado e evitar exageros, pode ser a chave para um coração saudável durante as festas e ao longo do ano.