Consertos de mais de 67 mil euros, mais de 370 mil quilómetros adulterados: alguns carros usados em Portugal podem já ter mudado de proprietário 20 vezes, aponta estudo
A maioria dos condutores tenta evitar, de forma proativa, veículos que tenham a quilometragem adulterada ou algum historial de danos. Mas, na verdade, os carros usados podem esconder outros segredos. Alguns mudaram de proprietário com demasiada frequência, outros participaram em vários acidentes. Assim, a ‘carVertical’, empresa de dados automóveis, analisou os casos mais extremos do mercado de veículos usados em Portugal, ao longo do primeiro semestre de 2024. O estudo focou-se em veículos importados.
Entre fronteiras: será que ter matrícula em cinco países é um problema?
Quando um automóvel sai da linha de montagem, não permanece necessariamente no país de produção. O mesmo acontece com os veículos usados, que costumam ser exportados para fora e chegam a ter vários proprietários ao longo da sua vida útil.
Entre todos os carros verificados na plataforma da ‘carVertical’ em Portugal, um Mercedes-Benz Classe C 2015 destacou-se, por ter estado registado em 5 países. Logo atrás, ficou um BMW Série 4, de 2015, com 4 países, e um Ford Mustang, de 2017, um Volkswagen Golf, de 2016, e um BMW Série 2, de 2015, todos com 3 países diferentes de registo.
Os condutores costumam mudar de carro de tempos a tempos, mas isso não se aplica a todos os modelos. O detentor do recorde deste ano é um Volkswagen Golf de 2010, que já teve 20 proprietários. Um outro Volkswagen Golf de 2005, com 17 proprietários, e um Audi A3 de 2009, com 16 proprietários, também mudaram de mãos várias vezes.
“Se um automóvel já tiver tido muitos proprietários, vale a pena investigar o motivo. Regra geral, as pessoas mudam de carro a cada 4–6 anos, mas um modelo que mude de proprietário todos os anos ou em poucos meses pode ter problemas graves. Os condutores que compram carros importados correm riscos particulares, porque pode ser difícil identificar o número de proprietários que o veículo teve. Felizmente, com a crescente popularidade dos serviços de verificação do historial automóvel, é possível aceder a essas informações de forma simples e imediata”, afirmou Matas Buzelis, diretor de Comunicações da ‘carVertical’.
A secção “Cronologia” dos relatórios da ‘carVertical’, por exemplo, fornece informações sobre o registo do automóvel, alterações de propriedade, e inspeções técnicas ocorridas, o que pode ser útil para quem procura adquirir um carro usado.
Valor mais elevado de danos excedeu os 67 mil euros
Embora todos os automóveis acabem por sofrer um acidente, alguns modelos são mais propensos a acidentes do que outros. Em Portugal, os utilizadores da ‘carVertical’ descobriram que um BMW Série 1 de 2014 já tinha sofrido 6 acidentes de viação, seguido de um Tesla Model S de 2018, com 5 registos de danos, e de um SEAT Ibiza de 2016, um Volkswagen Golf de 2014, e outro BMW Série 1 de 2016, com 4 acidentes cada.
Dependendo da gravidade dos danos, as seguradoras avaliam o custo das reparações de forma diferente. De modo geral, os modelos de gama alta incorrem em custos de reparação mais elevados. Se um veículo já esteve envolvido em vários acidentes, com prejuízos totais que atingem dezenas ou centenas de milhares de euros, vale a pena mandar inspecioná-lo minuciosamente numa oficina. O relatório histórico do veículo fornece informações sobre as peças danificadas, permitindo que os mecânicos se foquem nessas áreas.
O custo total de danos mais elevado em Portugal foi registado num Porsche 911 Turbo de 2014, totalizando 67.250 euros – valor que equivale ao preço de um apartamento nalguns países. Seguiram-se de perto um BMW Série 4 de 2016, com 64.500 euros, e um Audi TT de 2015, com 63.500 euros.
Quilometragem reduzida em centenas de milhares de quilómetros
Os anúncios de classificados em Portugal estão repletos de carros que percorreram centenas de milhares de quilómetros, mas nenhum se aproxima de um Mercedes-Benz Classe C de 2008, que ostenta uns impressionantes 520.700 km no conta-quilómetros. Isto faz dele o claro detentor do recorde entre todos os veículos verificados pela ‘carVertical’ no primeiro semestre deste ano.
Em termos práticos, o Mercedes-Benz Classe C percorreu, em média, mais de 40.000 km por ano desde 2008 – uma distância notável, que reflete a distância percorrida por este veículo. Seguem-se de perto um Renault Trafic de 2009 com 504.633 km e um BMW Série 4 de 2015, com 503.337 km.
Vender um carro com muitos quilómetros por bom preço pode ser difícil. Por isso, alguns vendedores desonestos adulteram os valores nos conta-quilómetros, inflacionando assim o preço dos veículos.
Entre todos os carros verificados em Portugal, o retrocesso de quilometragem mais significativo foi registado num Audi A3 de 2009 – o conta-quilómetros tinha sido modificado em 373.981 km. Seguiram-se um Peugeot Traveller de 2019 com um retrocesso de 189.722 km e um Volkswagen Passat de 2012 com um desvio de 171.786 km.
“Comprar um veículo com quilometragem adulterada em centenas de milhares de quilómetros acarreta muitos problemas. É evidente que um carro deste tipo já não é fiável e vai avariar com frequência. A questão da segurança também é crucial: um carro com uma quilometragem elevada pode representar um perigo não só para o condutor e os passageiros, mas também para outros automobilistas”, explicou Buzelis.