Conflito no Mar Vermelho: Portos de Leixões e Viana não sentem “impacto direto” e dizem que cadeia se “reajusta”
Os Houthis tornaram-se ‘uma pedra no sapato’ para muitos países: os ataques a navios comerciais e embarcações ocidentais fazem com que algumas das principais companhias marítimas prefiram contornar toda a África, apesar da viagem ser mais cara e mais longa.
Este conflito faz com que a rota dos navios seja a aumentada entre 15 e 20 dias, dependendo da origem do navio, estendendo um percurso de 18 mil para 25 mil quilómetros, o que representa um aumento de custo que pode ficar entre os 40 e 60%, sobretudo devido ao maior consumo de combustível.
No entanto, em Portugal, os Portos de Leixões e Viana do Castelo não sentiram ainda um “impacto direto” do conflito.
Fonte oficial da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana explicou à Executive Digest que, atualmente, 80% da frota de contentores que está a operar nas linhas da Ásia e Europa, e que são cerca de 400 navios, estão a navegar numa viagem muito mais longa, o que representa mais 10.000 milhas náuticas, ou seja, cerca de 18.000 km, o que acresce 20 dias na viagem total destes navios.
“Portanto, isto são custos significativos tanto no consumo de combustível, tempo de viagem, tudo isso acaba por trazer custos para o produto final. E achamos que isso vai acontecer”, afirmam.
No entanto, ”impacto direto, na entrada e na saída, não temos. Agora, o navio que estava previsto chegar numa data demora mais 20 dias, mas a cadeia acaba depois por ficar reajustada. O impacto achamos que vai ser esse, de acordo com os dados que recolhemos”, explicam.
A fonte afirmou ainda que o facto de não sentirem um impacto direto se deve muito também à locação do Porto, que é um Porto de entrada de matérias-primas para as empresas da região e um ponto de saída de mercadorias já transformadas.
A Executive Digest tentou recolher informações junto dos Portos de Lisboa e Sines e Algarve, mas ainda não obteve resposta.
Ainda esta semana o Diretor-Geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, garantiu que está em causa o aumento do preço do aluguer dos contentores que seguem a bordo de cargueiros que navegam na região.
Explica que, apesar de, atualmente, ainda não se verificar nenhuma alteração, confirma que dentro de menos de um mês se possa assistir a aumentos nos preços dos produtos de retalho especializado, mas não dos produtos alimentares.
No entanto, tranquiliza, não se prevê qualquer rotura de produtos, apenas alguns atrasos registados devido à situação na região.
O que está a acontecer no Mar Vermelho?
Recorde-se que os rebeldes Houthis declararam apoio ao Hamas, após o início da ofensiva militar israelita em Gaza, em resposta ao ataque de 7 de outubro por militantes palestinianos. Os rebeldes afirmaram que estão a atacar os navios que viajam para Israel, utilizando drones e rockets, embora não esteja claro se todos os navios atacados se dirigiam realmente ao território israelita, tendo os seus ataques comprometido esta rota mais acessível para o comércio internacional.
O Mar Vermelho é uma rota comercial fundamental, na medida em que é uma passagem entre o Ocidente e a Ásia, sendo a forma mais rápida de ligar ambas as partes do mundo por mar (mais de 10% do comércio marítimo mundial passa pelas suas águas). Ao norte, comunicando com o Mar Mediterrâneo, o movimentado Canal de Suez. Ao sul, dando lugar ao Mar da Arábia, o estreito de Bab el-Mandeb, com cerca de 30 quilómetros de largura, tem sido palco privilegiado para os ataques dos Houthis.
Em vez de usar o Estreito de Mandeb, os navios terão agora de percorrer uma rota mais longa para navegar na África Austral, acrescentando potencialmente cerca de 10 dias à viagem e custando milhões de euros extra às empresas.