Começa hoje pausa humanitária para vacinação contra a poliomielite no norte de Gaza

Hoje marca o início da terceira e última fase da pausa humanitária para a vacinação contra a poliomielite no norte de Gaza, uma medida acordada entre Israel e as Nações Unidas para permitir a imunização de crianças. A pausa, que durará até 12 de setembro, faz parte de uma campanha que visa vacinar cerca de 640.000 crianças em todo o território, após a deteção do vírus em amostras de esgoto em junho deste ano.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que a cobertura vacinal em Gaza, que se situava em 99% em 2022, caiu para menos de 90% no início deste ano, em parte devido à destruição generalizada causada por mais de 10 meses de bombardeamentos israelitas. A redução da taxa de vacinação deixou a população vulnerável a surtos, especialmente entre crianças menores de cinco anos, a quem o vírus afeta com maior gravidade, podendo causar paralisia irreversível ou mesmo a morte.

Rik Peeperkorn, representante da OMS para a Cisjordânia e Gaza, referiu numa conferência de imprensa: “Temos um compromisso preliminar para pausas humanitárias específicas por áreas durante a campanha”, destacando que o processo foi dividido em três fases: Gaza central, de 1 a 4 de setembro; sul de Gaza, de 5 a 8 de setembro; e agora, no norte de Gaza, de 9 a 12 de setembro.

Mais de 2.000 profissionais de saúde foram mobilizados em Gaza para garantir a execução da campanha, com 1,26 milhões de doses de vacinas já entregues à região e mais 400.000 a caminho. O Ministério da Saúde da Palestina, em Ramallah, confirmou que os postos de vacinação foram distribuídos de acordo com mapas publicados para facilitar o acesso.

Contudo, a aplicação destas pausas humanitárias levanta preocupações sobre se as Forças de Defesa de Israel (IDF) irão realmente respeitar os períodos de cessar-fogo durante a campanha. Um representante de uma organização de ajuda humanitária disse à CNN que há receios de que os soldados israelitas possam continuar a atacar alvos do Hamas, mesmo durante as pausas acordadas.

As condições de segurança continuam a ser uma preocupação, especialmente após relatos de ataques a comboios humanitários. A OMS e outras agências humanitárias sublinham que a destruição das infraestruturas e o deslocamento contínuo de pessoas representam um obstáculo significativo para garantir a vacinação em toda a região dentro do prazo previsto.

O reaparecimento da poliomielite em Gaza foi confirmado em agosto, quando um menino de 11 meses, Abdul Rahman, foi diagnosticado com a doença. Este foi o primeiro caso registado na região em 25 anos. A sua mãe, Niveen Abu al-Jidyan, descreveu ao canal CNN a progressão alarmante da doença no seu filho: “O meu filho começou a mover-se e a gatinhar cedo. Mas, de repente, tudo regrediu. Ele deixou de gatinhar, de se mover e de ficar de pé. Agora, com quase um ano, ele devia estar a andar, mas parou de se mover”.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que serão necessárias duas doses da vacina, administradas com quatro semanas de intervalo, sugerindo que mais pausas humanitárias poderão ser necessárias no futuro. Ainda assim, Peeperkorn alertou que os três dias destinados a cada área podem não ser suficientes para atingir a cobertura vacinal necessária.

Representantes do Hamas, incluindo Basem Naim, manifestaram o seu apoio à campanha de vacinação e à pausa humanitária. Naim afirmou: “Estamos prontos para cooperar com as organizações internacionais para garantir o sucesso desta campanha”.

Com a campanha de vacinação em curso, a esperança é que esta iniciativa ajude a conter o surto de poliomielite, que já afeta centenas de pessoas na região, enquanto os desafios políticos e de segurança continuam a testar a resiliência das equipas de saúde e das populações afetadas.

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