Combater um enorme incêndio “completamente às secas”: Bombeiros de Los Angeles ficaram sem água para travar as chamas

Os incêndios florestais que varrem a área de Pacific Palisades, em Los Angeles, expuseram uma grave falha no sistema de abastecimento de água da cidade. Bombeiros que lutavam para conter as chamas viram as bocas de incêndio secarem, deixando bairros inteiros vulneráveis ao avanço do fogo. O problema, segundo especialistas, é reflexo de sistemas projetados para situações muito menos intensas do que as causadas por condições climáticas extremas e o impacto das mudanças climáticas.

Na madrugada de quarta-feira, a equipa do capitão Kevin Easton, que combatia o incêndio em Pacific Palisades, viu as linhas de água falharem completamente. “Completamente seco — não conseguíamos tirar uma gota de água”, afirmou Easton ao The New York Times. Mesmo horas após a falha, as bocas de incêndio da zona de Palisades Highlands continuavam sem água, contribuindo para a destruição de mais de 5.000 estruturas pelo incêndio.

O problema decorreu de um colapso no sistema de reservatórios e bombas que abastecem as áreas de maior altitude, como Highlands. Marty Adams, ex-diretor-geral do Departamento de Água e Energia de Los Angeles (LADWP), explicou que o sistema foi concebido para incêndios localizados, não para múltiplos focos de fogo que avançam rapidamente. “Estamos a lidar com uma situação que ultrapassa completamente qualquer desenho convencional de sistemas de água”, disse Adams.

Falhas estruturais e resposta insuficiente

Os reservatórios de água que servem Pacific Palisades — cada um com capacidade de cerca de 1 milhão de galões — foram esvaziados em questão de horas. O primeiro esgotou-se na terça-feira, seguido do segundo pouco tempo depois. Na manhã de quarta-feira, o terceiro reservatório já estava seco. Janisse Quiñones, diretora-executiva do LADWP, explicou que a elevada procura por água na linha principal impediu que o sistema recarregasse os reservatórios.

A chefe dos bombeiros de Los Angeles, Kristin M. Crowley, anunciou que, devido à falta de água, as equipas deixaram de utilizar as bocas de incêndio e passaram a depender de outros recursos. “Estamos habituados a esgotar a água em incêndios florestais, e treinamos para isso”, afirmou Crowley, que destacou a importância das aeronaves para o combate às chamas. No entanto, os fortes ventos tornaram os voos impossíveis nas fases iniciais do incêndio.

Além da escassez de água, os bombeiros enfrentaram ventos erráticos que propagaram brasas por quilómetros, dificultando os esforços de contenção. Chad Augustin, chefe dos bombeiros de Pasadena, enfatizou que as rajadas foram responsáveis pelo avanço rápido do incêndio Eaton, que destruiu mais de 13.000 hectares e cerca de 5.000 estruturas na área de Altadena. “Mesmo com mais água, não teríamos conseguido conter a propagação inicial”, afirmou Augustin.

Os camiões-tanque enviados pelo LADWP para auxiliar no abastecimento trouxeram soluções limitadas. De acordo com o capitão Easton, os camiões forneciam 500 galões por viagem, o que não era suficiente para combater incêndios de grande escala. “Apagávamos parte de uma casa, mas depois tínhamos de voltar para reabastecer”, relatou.

Infraestrutura obsoleta e críticas

Rick Caruso, empresário e ex-candidato a presidente do LADWP, destacou a falta de preparação do sistema. “A ausência de água as bocas de incêndio — isso é inaceitável”, afirmou. Caruso contratou bombeiros privados para proteger propriedades, incluindo o Palisades Village, um espaço comercial de sua propriedade.

Traci Park, vereadora de Los Angeles responsável pelo distrito de Pacific Palisades, descreveu o problema como um reflexo de infraestruturas subfinanciadas. “As nossas condutas de água, algumas com mais de um século, são uma catástrofe ambiental à espera de acontecer”, alertou.

Greg Pierce, investigador da Universidade da Califórnia em Los Angeles, apontou que redesenhar sistemas de água para suportar incêndios de grande escala seria extremamente caro. Mais fundamental, segundo Pierce, é a necessidade de debater se faz sentido reconstruir comunidades próximas a áreas selvagens, num momento em que as mudanças climáticas intensificam os incêndios na interface urbano-florestal.

Enquanto isso, o capitão Easton sublinhou a urgência de um reforço logístico e estrutural. “Precisamos de sistemas mais robustos para lidar com estas situações”, concluiu.