Comandante da Marinha russa anuncia reforço e modernização das armas nucleares do país e deixa aviso sobre exercícios da NATO

A Rússia anunciou a modernização completa das suas forças navais nucleares, um marco destacado pelo comandante da marinha russa, Almirante Alexander Moiseyev, durante o 14.º Fórum Internacional “Ártico: Hoje e o Futuro”, realizado em São Petersburgo. A declaração foi divulgada pela agência estatal Tass na quinta-feira.

“Os meios estratégicos nucleares da marinha russa foram completamente modernizados”, afirmou Moiseyev na sessão plenária inaugural do fórum, enfatizando que este é um dos pilares prioritários para a segurança do país. “As forças nucleares continuarão a ser uma garantia de segurança para a nossa nação no cenário internacional”, declarou o almirante, segundo a Tass.

Esta renovação surge num contexto de crescentes tensões geopolíticas, com a Rússia a sublinhar o papel das suas capacidades militares no Ártico, uma região de crescente relevância estratégica e ambiental.

A Rússia detém o maior inventário de ogivas nucleares do mundo, de acordo com o relatório de 2024 da Federação de Cientistas Americanos (FAS), que aponta para 5.580 ogivas no arsenal russo, em comparação com as 5.044 dos Estados Unidos e 500 da China. No entanto, estimativas do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI) indicam números ligeiramente inferiores: 4.380 ogivas para a Rússia e 3.708 para os EUA. Outros países com armas nucleares incluem o Reino Unido, França, Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte.

Durante a sua intervenção, Moiseyev criticou os exercícios realizados pela NATO na região, classificando-os como “ofensivos” e não defensivos. Em novembro, milhares de soldados da NATO, provenientes dos EUA, Suécia, Reino Unido e França, participaram em manobras de artilharia no Ártico finlandês. A adesão da Finlândia à NATO, concretizada em abril de 2024, intensificou as preocupações da Rússia, dado que os dois países partilham uma fronteira de mais de 1.300 quilómetros.

“O fortalecimento das nossas forças deve aumentar o sentido de responsabilidade entre os países na região do Ártico, especialmente aqueles que procuram escalar tensões”, afirmou Moiseyev, apontando o dedo às ações da NATO.

Paralelamente, a Rússia iniciou esta semana o destacamento de armas nucleares táticas na Bielorrússia, marcando a primeira deslocação do arsenal nuclear russo fora do território nacional desde o final da Guerra Fria. A proximidade geográfica da Bielorrússia com a Ucrânia, com uma fronteira de 1.083 quilómetros, oferece à Rússia uma maior capacidade de resposta e alcance para potenciais alvos na Europa Oriental e Central, incluindo vários aliados da NATO.

O posicionamento destas armas reforça a estratégia russa de dissuasão numa altura em que as relações com o Ocidente estão no seu ponto mais baixo desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Os EUA, aliados de Kiev, condenaram a invasão e têm fornecido apoio militar significativo à Ucrânia, aumentando o antagonismo entre as duas potências.

O fórum, que termina esta sexta-feira, reúne cerca de 2.000 participantes e abrange temas como telecomunicações, tecnologia, comunidades indígenas, pesca e capacidades navais. A iniciativa reflete a importância crescente do Ártico na política externa e militar russa, com Moscovo a reforçar a sua presença e influência na região.

A modernização das forças nucleares e os alertas sobre os exercícios da NATO demonstram o foco contínuo da Rússia em garantir a sua posição estratégica, tanto no Ártico como no cenário global.