China ‘anexa’ território da Rússia: silêncio de Putin é sinal da “posição enfraquecida” de Moscovo, indicam especialistas
Um novo mapa do Governo chinês, lançado na passada segunda-feira, mostra territórios disputados como estando dentro das fronteiras da China, incluindo a Ilha Bolshoi Ussuriysky, partilhadas pela China e pela Rússia. A Malásia, Filipinas, Índia e Taiwan queixaram-se do mapa, publicado pelo Ministério dos Recursos Naturais chinês, no qual é reivindicado terras na fronteira da China com a Índia, em todo Taiwan, e em ilhas, recifes e zonas marítimas no Mar da China Meridional, que são contestadas por meia dúzia de países.
“Este mapa foi compilado com base no método de desenho das fronteiras nacionais da China e de vários países do mundo”, referiu o porta-voz do Governo chinês.
The 2023 edition of China's standard map was officially released on Monday and launched on the website of the standard map service hosted by the Ministry of Natural Resources. This map is compiled based on the drawing method of national boundaries of China and various countries… pic.twitter.com/bmtriz2Yqe
— Global Times (@globaltimesnews) August 28, 2023
Os meios de comunicação russos notaram que o mapa também inclui as ilhas partilhadas pelos dois países após um acordo assinado em 2004 e finalizado em 2008, que se seguiu a mais de um século de disputa. No entanto, alguns meios de comunicação russos notaram que Moscovo ainda não comentou o assunto.
De acordo com Steve Tsang, diretor do Instituto da China na Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, em declarações à revista ‘Newsweek’, o silêncio do Kremlin até agora “reflete a prioridade que a administração de Putin dá à parceria estratégica” com a China, mostrando também “a posição enfraquecida” de Moscovo em relação a Pequim “particularmente desde a problemática invasão russa da Ucrânia”.
O mapa pode representar um obstáculo diplomático complicado. O presidente Vladimir Putin, que assinou o acordo relativo às Ilhas Bolshoi Ussuriysky em 2008, anunciou uma “nova era” nas relações entre os países durante uma visita do homólogo chinês Xi Jinping a Moscovo em março. “Não creio que o silêncio russo signifique a aceitação da reivindicação chinesa. Apenas não a conteste em detrimento da parceria estratégica por enquanto”, indicou Tsang.
A Convenção de Pequim estipulou, em 1860, que a fronteira entre a China e a Rússia se fazia ao longo dos rios Amur e Ussuri, em cuja confluência ficam as Bolshoi Ussuriyskiy. Em 1929, foram ocupadas pela União Soviética, assim como as vizinhas Ilhas Yinlong, o que não foi aceite pela China.
Gary Kasparov, opositor político de Vladimir Putin, garantiu em maio último que esperava que a China fizesse maiores reivindicações sobre o território russo no futuro, especialmente se, como previu, houvesse um colapso do Kremlin que Pequim pudesse explorar, salientando que Xi Jinping poderia tentar corrigir os resultados dos tratados históricos assinados “quando a China estava fraca e a Rússia, como qualquer outra potência imperial, tentou esculpir pedaços da China”.
“A China tem reivindicações territoriais substanciais sobre a Rússia”, de Vladivostok ao Lago Baikal, garantiu Kasparov, referindo que os media chineses “falam abertamente sobre restaurar a justiça histórica e devolver o que era a China”.