Chefe dos serviços secretos militares da Rússia demite-se após Putin detetar “erro grave” que levou a morte de general
O coronel-general Nikolai Yuryev, chefe do departamento de contraespionagem militar do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), apresentou a sua demissão abruptamente esta semana. A saída abrupta ocorre num contexto de duras críticas do presidente Vladimir Putin aos serviços de segurança e inteligência, após o assassinato do tenente-general Igor Kirillov, atribuído ao Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), tendo inclusive criticado o “erro grave” que levou ao episódio.
Embora o canal de Telegram Siren tenha relatado que Yuryev renunciou “por vontade própria”, especula-se que o presidente russo o terá demitido devido a “falhas no trabalho operacional” relacionadas com o Ministério da Defesa.
Se confirmado que Yuryev foi afastado por Putin, a mudança poderá sinalizar uma reestruturação interna nos serviços de segurança e nas forças armadas russas. Especialistas avaliam que tal reestruturação pode ter implicações na estratégia militar da Rússia, particularmente no contexto da guerra na Ucrânia.
Nikolai Yuryev liderava o departamento de contraespionagem militar desde 2018, sendo responsável por “suprimir atividades ilegais de agências de inteligência estrangeiras contra as Forças Armadas da Federação Russa, combater o terrorismo e o sabotagem, e proteger segredos de Estado”, conforme noticiado pela agência Avia.pro.
Putin reiterou anteriormente a importância do trabalho da contraespionagem militar, afirmando, segundo o canal Telegram Agency News: “As agências de contraespionagem, especialmente as militares, têm tarefas importantes. As vossas ações nas tropas, sobretudo nas unidades envolvidas numa operação militar especial, devem ser claras e sistemáticas. É necessário, de forma imediata, interromper as ações de agências de inteligência estrangeiras, combater ativamente os que organizam sabotagens e ataques terroristas, e identificar espiões e traidores.”
Acredita-se que Yuryev possa ter falhado em atender a essas exigências, o que teria levado à sua saída.
A demissão de Yuryev ocorreu logo após o assassinato de Igor Kirillov, chefe das forças de proteção nuclear, biológica e química da Rússia, morto a 12 de dezembro quando uma trotinete armadilhada explodiu. O ataque, atribuído à Ucrânia, levantou questões sobre falhas na segurança interna. Kirillov tinha sido acusado pela Ucrânia de utilizar armas químicas proibidas.
Durante a sua conferência de imprensa anual, Putin comentou o incidente, descrevendo-o como um “erro grave” dos serviços de segurança:
“Isso significa, claramente, que as nossas forças de segurança e serviços especiais estão a falhar em prevenir esses ataques. Precisamos de melhorar esse trabalho e evitar falhas tão graves.”
Análise e especulações
A demissão de Yuryev gerou reações de analistas e especialistas. Vladislav Shurygin, especialista militar, afirmou ao PolitNavigator que a saída de Yuryev já era prevista desde outubro, quando se especulava que ele deixaria o cargo após completar 65 anos, a 25 de novembro. Para Shurygin, o assassinato de Kirillov não estaria diretamente ligado à decisão:
“A tarefa da contraespionagem militar é proteger infraestruturas militares contra agentes inimigos internos. Fora das unidades militares, essa responsabilidade recai sobre o FSB como um todo.”
Mikhail Zvinchuk, ex-membro do serviço de imprensa do Ministério da Defesa, corroborou que a saída de Yuryev foi previamente planeada. “O decreto sobre a sua substituição foi emitido há três semanas. Ele estava a transferir as suas funções e a preparar a saída. A sua demissão não está relacionada com o assassinato do tenente-general Kirillov”, afirmou.
Por outro lado, Igor Sushko, escritor ucraniano-americano, declarou no X (antigo Twitter) que Yuryev era responsável por ações de tortura e execução de ucranianos, e que Putin já havia informado o general sobre a sua demissão em outubro.