Caos no SNS: Mais de 10 mil consultas adiadas no Amadora-Sintra devido a saída de dez cirurgiões
O hospital Amadora-Sintra enfrenta uma crise sem precedentes no serviço de cirurgia geral, na sequência da demissão de dez cirurgiões em outubro. A saída destes profissionais resultou no adiamento de mais de mil consultas, sem data prevista para reagendamento, impactando gravemente os utentes da unidade de saúde que serve uma população superior a 500 mil habitantes na região.
Segundo adianta a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) em comunicado, os dez cirurgiões demitiram-se devido a “uma situação de assédio laboral por parte de dois médicos do serviço”. O sindicato alerta para o impacto deste problema, sublinhando que compromete seriamente os cuidados cirúrgicos e o ambiente de trabalho na unidade hospitalar.
Recorde-se que desfecho remonta a um caso controverso iniciado há cerca de um ano, quando dois médicos denunciaram publicamente alegadas más práticas no serviço de cirurgia geral do Amadora-Sintra. Uma investigação conduzida pela Ordem dos Médicos concluiu que, dos 18 casos analisados, apenas um correspondia a uma “má opção cirúrgica”.
No entanto, os médicos denunciantes foram posteriormente alvo de processos disciplinares, acusados de acesso indevido a processos clínicos e dados de doentes. Ambos foram suspensos, mas regressaram ao hospital, decisão que acabou por desencadear a demissão coletiva dos cirurgiões.
Impacto na formação e no serviço de cirurgia geral
A Fnam destacou que esta situação comprometeu gravemente a capacidade formativa do hospital. Na semana passada, a Ordem dos Médicos determinou que o Amadora-Sintra não reúne condições para assegurar a formação específica de dez médicos internos, agravando ainda mais as dificuldades em fixar novos profissionais de cirurgia geral.
A Fnam considera que “o ambiente de instabilidade criado pelos dois médicos denunciados, um dos quais ex-diretor de serviço, afetou o exercício profissional de toda a equipa”.
Em resposta à demissão coletiva, a Unidade Local de Saúde (ULS) de Amadora-Sintra anunciou a contratação de 12 novos médicos para o serviço de urgência, incluindo oito especialistas em cirurgia geral. Apesar desta medida, a Fnam e a Ordem dos Médicos afirmam que as condições do hospital continuam longe do necessário para garantir a estabilidade e a qualidade dos cuidados prestados.
O presidente da ULS, no entanto, contestou a decisão da Ordem dos Médicos de suspender a formação de internos, assegurando que a capacidade formativa do hospital se mantém.
O sindicato liderado por Joana Bordalo e Sá criticou ainda a a “inércia” do conselho de administração da ULS Amadora-Sintra e do Ministério da Saúde, acusando-os de desvalorizar os relatos de assédio laboral no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A Fnam exige “uma resposta concreta e imediata” da ministra Ana Paula Martins, alertando para os riscos que a situação representa para o funcionamento do hospital e para a saúde dos utentes.