Caos nas Urgências no fim de semana: Mais de 890 atendimentos no Amadora-Sintra, mas quase 20% dos doentes desistiu da espera
O Hospital Fernando da Fonseca (HFF), conhecido como Amadora-Sintra, registou 891 atendimentos nas urgências durante o último fim de semana, mas 152 doentes (cerca de 17%) acabaram por abandonar o serviço sem serem observados por um médico. A elevada afluência e os tempos de espera prolongados foram apontados como os principais fatores para esta situação. De acordo com fontes hospitalares, citadas pelo Diário do Notícias (DN) alguns doentes urgentes tiveram de aguardar entre 31 e 34 horas para serem atendidos, enquanto os casos muito urgentes enfrentaram esperas de 6 a 8 horas.
Só no dia 25 de janeiro, o hospital atendeu 471 doentes nas três áreas de urgência (geral, pediatria e ginecologia-obstetrícia). Destes, 218 eram casos não urgentes, 269 foram para a urgência geral, 140 para pediatria e 62 para ginecologia-obstetrícia. No entanto, 76 doentes desistiram antes de serem observados. No dia seguinte, registaram-se 420 atendimentos, com 76 novas desistências. No total, 441 dos atendimentos ao longo do fim de semana correspondiam a casos classificados como menos urgentes, o que corresponde a quase metade do total.
A situação crítica do hospital foi um dos principais temas da reunião da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) com os conselhos de administração das Unidades Locais de Saúde (ULS) na segunda-feira. Como resposta, foi recomendada a adesão do Amadora-Sintra ao projeto Ligue Antes, Salve Vidas, que incentiva os utentes a ligarem para a linha SNS24 antes de procurarem a urgência hospitalar. A unidade já manifestou interesse em aderir à iniciativa e aguarda orientações superiores para iniciar a implementação.
Apesar do caos no atendimento, a administração do hospital garantiu que houve reforço de equipas para responder à procura, estabilizando a situação durante a noite de domingo. No entanto, não foram divulgados os tempos exatos de espera. O DN tentou obter esclarecimentos adicionais, mas não recebeu resposta da direção da unidade sobre a real dimensão do problema.
Os sindicatos médicos manifestaram preocupação com a sobrecarga das urgências, em especial no Amadora-Sintra. Nuno Rodrigues, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), considerou os números alarmantes e defendeu que “o trabalho em rede tem de ter melhor articulação”. Por sua vez, Joana Bordalo e Sá, presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), alertou para a falta de recursos humanos e destacou que muitos médicos internos, sobretudo de Medicina Interna, acabam por ser escalados para horas extraordinárias constantes, o que compromete tanto a qualidade dos cuidados prestados como a saúde dos próprios profissionais.
O hospital, que foi o quarto mais procurado do país no último fim de semana e o primeiro na região de Lisboa e Vale do Tejo, também enfrentou uma sobrecarga adicional ao receber doentes de outras Unidades Locais de Saúde que já não tinham capacidade de resposta. A pressão sobre os serviços de urgência é agravada pela falta de médicos de família na área, fazendo com que muitos utentes recorram diretamente ao hospital. Os dados oficiais do SNS indicam tempos médios de espera inferiores aos relatados por profissionais da unidade, mas não refletem a realidade individual dos doentes que enfrentaram esperas de várias horas para serem observados.