Autarca de junta indignado com operação policial no Martim Moniz pede saída da ministra
O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, disse hoje que a ministra da Administração Interna não tem condições para continuar em funções após a “inaceitável” operação policial de quinta-feira no Martim Moniz.
“Aquilo que aconteceu ontem é típico de uma ditadura islâmica ou de uma ditadura da América Latina […]. Julgo, como cidadão e como autarca, que não há condições para a senhora ministra da Administração Interna continuar e os comandos da polícia têm de explicar porque é que fecharam uma rua inteira e encostaram pessoas à parede. Seriam capazes de fazer isto em Campo de Ourique, nas Avenidas Novas, no Lumiar?”, questionou.
Em declarações à agência Lusa, Miguel Coelho (PS) indicou que vai hoje à Rua do Benformoso, junto à praça do Martim Moniz, na freguesia que gere: “Alguém tem de pedir desculpa a estas pessoas e, já que não vai lá o senhor Presidente da República, vou lá eu.”
A forma como a operação foi realizada, acrescentou, “cria uma perceção de que a insegurança e o perigo estão numa comunidade”.
“Isto vai fomentar o ódio e o racismo e não vai resolver nada. Foi um ‘show off’ inacreditável por parte dos comandos policiais”, sublinhou.
O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior mostrou-se “profundamente indignado”, no contexto de um “Estado democrático de direito consolidado” e num território pelo qual é responsável, apontando que não tinha conhecimento de que estava planeada uma operação daquela envergadura.
“Não tinha conhecimento e porventura não tinha de ter. A polícia não fala com os autarcas de proximidade. Há um completo alheamento por parte da polícia e uma arrogância. Eu defendo uma polícia com autoridade e protegida por lei dos insultos e agressões, e que ganhe melhor. Tenho um profundo respeito pelo papel da polícia, mas quero uma polícia respeitadora da Constituição e que esteja expurgada de movimentos racistas”, referiu.
Miguel Coelho lamentou que “agora esteja na moda ter como alvo a população imigrante do subcontinente indiano”, algo que considera “errado”, porque “são pessoas pacíficas na sua maioria”.
“São pessoas que nos levam comida a casa. São pessoas que estão nos campos a colher a fruta que nós comemos. São pessoas que estão a fazer engordar as empresas todas, que são exploradas pelos empresários e são pessoas humildes. Não é por elas que tenho aqui alguma sensação de insegurança. Algumas trabalham na Junta, na higiene urbana”, concluiu.
A operação policial de quinta-feira no Martim Moniz resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.
Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP esclarece uma pessoa foi detida por posse de arma proibida e droga e outra por ser suspeita de pelo menos oito crimes de roubo.
A operação foi acompanhada por uma procuradora da República e foram cumpridos seis mandados de busca não domiciliária.
O enorme aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram, na Rua do Benformoso, dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, e comentários sobre a necessidade daquele procedimento.
Questionada sobre esta questão, a porta-voz do Cometlis, Ana Raquel Ricardo, explicou que uma “operação especial de prevenção criminal dá legitimidade para fazer outro tipo de diligências, nomeadamente a revista de cidadãos que se encontrem no local e revista de viaturas” que por ali circulem.
O contingente empregue “foi o necessário” para uma operação deste tipo, referiu, sem, contudo, revelar o número de profissionais envolvidos.
Segundo a PSP, participaram nesta operação meios das Equipas de Intervenção Rápida, das Equipas de Prevenção e Reação Imediata, de trânsito e à civil – investigação criminal e fiscalização.