Áustria: Protestos hoje em várias cidades contra formação de governo de extrema-direita liderado por Herbert Kickl

A possibilidade da formação de um governo de coligação entre o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) e o Partido Popular Austríaco (ÖVP), liderado por Herbert Kickl, tem gerado uma onda de protestos em Viena e em várias outras cidades do país. Desde o início das negociações, diversas organizações e movimentos têm convocado manifestações contra a ascensão da extrema-direita ao poder, com destaque para o regresso das chamadas “quinta-feiras de protesto” que marcaram o cenário político na Áustria no passado.

A tensão aumentou após Herbert Kickl, líder do FPÖ, ter participado na segunda-feira de uma reunião com o Presidente da República, Alexander Van der Bellen, na sequência do falhanço das negociações entre os partidos da coligação vermelha-preta-rosa. Durante a conversa, Kickl foi recebido com protestos, incluindo vaias e a presença de centenas de manifestantes. No dia seguinte, organizações juvenis de esquerda mostraram o seu desagrado em Ballhausplatz, o coração político de Viena. Estes protestos coincidem com o anúncio de novas acções de rua, incluindo uma grande manifestação que está agendada para esta quinta-feira.

Várias organizações não governamentais (ONGs) como Volkshilfe, Greenpeace e SOS Mitmensch apelaram à formação de uma corrente humana e a um protesto sonoro em frente à Chancelaria, sob o lema “Alerta para a República!” O comunicado conjunto destas organizações denuncia que “a nossa república está numa encruzilhada. Um chanceler de extrema-direita ameaça, e com ele, um ataque à democracia, aos direitos humanos, à justiça, aos meios de comunicação independentes, à proteção do clima e da natureza e à coesão social do nosso país”.

Na terça-feira, as organizações juvenis de esquerda, como a Aktion Kritischer Schüler_innen, os Rote Falken e a Juventude Socialista, também se manifestaram em Ballhausplatz. Um dos cartazes dizia: “FPÖVP rouba-te a última camisa!”. A manifestação foi marcada por simbolismos, como a presença de dois participantes com máscaras de Kickl, enquanto outro, com a máscara do novo líder da ÖVP, Christian Stocker, tinha parte da sua camisa retirada, representando as alegadas “retiradas sociais” que os protestos procuram denunciar.

A hipótese do regresso das manifestações das “quinta-feiras” é forte, com um movimento crescente contra o governo de extrema-direita. Estas manifestações começaram a ganhar força em 2000, após a primeira coligação entre o FPÖ e o ÖVP, com mais de 150.000 pessoas a juntarem-se na Heldenplatz, em Viena, para protestar contra as políticas de “racismo e cortes sociais” do novo governo. A partir daí, seguiram-se meses de protestos semanais, que por vezes alcançaram grande visibilidade, incluindo o assalto simbólico ao Marriott Hotel em Viena, onde ministros do FPÖ e da ÖVP estavam programados para fazer aparições públicas.

Após a dissolução dessa primeira coligação, os protestos esfriaram, mas ressurgiram com força em 2018, sob o lema “É quinta-feira de novo”, contra o governo de Sebastian Kurz e Heinz-Christian Strache. As manifestações acabaram quando o escândalo de Ibiza destruiu a coligação. Agora, após as eleições de setembro do ano passado, que deram ao FPÖ uma vitória clara, uma nova onda de protestos começou a formar-se, sob o mote “FIX ZAM contra a direita!”, com cerca de 25.000 pessoas a desfilarem pelo centro de Viena.

A organização “Wiederdonnerstag”, que também se opõe ao governo de Kickl, considera essencial a formação de uma ampla resistência contra o líder do FPÖ. Natalie Assmann, porta-voz da organização, afirmou em entrevista à APA: “Acreditamos que é absolutamente certo e necessário que uma ampla resistência contra Kickl e o FPÖ mais radical desde a Segunda República já esteja a formar-se”. A organização apoia todos os protestos já anunciados e mobiliza para o evento desta quinta-feira, frente à Chancelaria. A evolução das manifestações, segundo Assmann, dependerá dos acontecimentos políticos que se seguirem.

As manifestações em Viena terão início por volta das 10h30, com uma duração ainda incerta, mas provavelmente prolongando-se até ao final da tarde. Espera-se que centenas de pessoas participem, e novos protestos poderão ocorrer nos próximos dias. A segurança em torno de Ballhausplatz e de outros edifícios governamentais será reforçada, com possibilidade de restrições operacionais. Este aumento de segurança poderá causar interrupções nas atividades comerciais e no transporte público da cidade.

Com a crescente polarização política e as tensões entre os grupos pró-democracia e as forças de extrema-direita, a situação em Viena promete ser uma das mais intensas dos últimos tempos.