Auschwitz foi libertado há 80 anos: hoje recorda-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto
Celebra-se esta segunda-feira o 80º aniversário da libertação de Auschwitz: construído na Polónia ocupada, Auschwitz-Birkenau é o símbolo do genocídio perpetrado pela Alemanha nazi contra seis milhões de judeus europeus, um milhão dos quais morreu no campo entre 1940 e 1945, juntamente com mais de 100 mil não-judeus. Cerca de 80 mil polacos não judeus, 25 mil ciganos e 20 mil soldados soviéticos foram também mortos pelos nazis alemães.
A Polónia vai promover cerimónias para assinalar o aniversário da libertação do campo de extermínio nazi pelo Exército Vermelho, com a participação de delegações de vários países, assim como alguns dos últimos sobreviventes.
Quando o Exército Vermelho entrou cautelosamente em Auschwitz, a 27 de janeiro de 1945, restavam apenas cerca de 7 mil prisioneiros: dezenas de milhares já haviam sido forçados a sair a pé nas chamadas “marchas da morte” enquanto os nazis se retiravam para o oeste.
O prisioneiro italiano Primo Levi estava num hospital do campo com escarlatina quando os libertadores soviéticos chegaram. Os homens lançavam “olhares trespassados por um estranho embaraço, para observar os cadáveres decompostos, os barracões arruinados, e os poucos vivos”, viria a escrever mais tarde, no seu livro de memórias sobre o Holocausto, ‘A Trégua’.
“Não acenavam, não sorriam; pareciam sufocados, não somente por piedade, mas por uma confusa reserva, que selava s suas bocas e subjugava os seus olhos ante o cenário funesto.”
“Vimos pessoas magras, torturadas e depauperadas”, disse o soldado Ivan Martynushkin sobre a libertação do campo de extermínio. “Pudemos ver nos seus olhos que eles estavam felizes por terem sido salvos desse inferno.”
Como tal, esta segunda-feira celebra-se o Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto (ou Dia da Shoah) e Dia Europeu de Memória do Holocausto
Implementado através da Resolução 60/7 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a 1 de novembro de 2005, o Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto tem como propósito não esquecer o genocídio em massa de seis milhões de judeus pelos nazis e respetivos colaboracionistas, educar para a tolerância e a paz, bem como alertar para o combate ao antissemitismo.
O Dia Europeu de Memória do Holocausto foi definido pelo Parlamento Europeu no âmbito das iniciativas de luta contra o racismo e a xenofobia na União Europeia.
Parlamento Europeu marca a data com sessão solene
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, vai abrir a sessão solene para assinalar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, agendada para quarta-feira. De seguida, será interpretada uma peça do violoncelista e compositor húngaro Pál Hermann, no seu instrumento original, um violoncelo Gagliano de 1720.
Corrie Hermann contará a história do seu pai – o músico que durante anos fugiu ao regime nazi antes de ser levado para um campo de concentração e morto em 1944 – aos membros do Parlamento Europeu. Os eurodeputados observarão um minuto de silêncio e a cerimónia terminará com a interpretação de “Kaddish”, de Maurice Ravel.
Nascido em 27 de março de 1902 em Budapeste, Pál Hermann era aluno do compositor Béla Bartók e considerado um dos melhores violoncelistas de sua época. Na década de 1920, foi viver para Berlim e apresentou-se ao vivo por toda a Europa, acompanhado do seu violoncelo. Em 1933, Pál Hermann mudou-se para a Bélgica e, depois, para França, em fuga aos avanços das tropas de Hitler.
Pál Hermann foi preso em Toulouse em 1944. Do comboio, conseguiu atirar um bilhete a pedir que o violoncelo fosse salvo dos nazis. A mensagem foi encontrada e um amigo de Pál Hermann percorreu 100 km de bicicleta para resgatar o instrumento. Invadiu a casa de Hermann, substituindo o Gagliano por um instrumento de menor qualidade e escapando com o violoncelo amarrado nas costas.
Hermann foi levado para um campo de concentração nazi nos países Bálticos e assassinado em 1944. O violoncelo foi redescoberto 80 anos depois, em 2022, durante o concurso internacional de música Rainha Elisabeth, em Bruxelas.
A filha de Pál Hermann, Corrie (Cornelia) Hermann, agora com 92 anos, contará a história do pai, o seu trágico destino e o seu trabalho durante a sessão plenária comemorativa.