Atenção, a sua ‘bica’ pode ficar mais cara: Conflitos no Mar Vermelho e fenómenos atmosféricos fazem disparar preço do café
O ano de 2023 foi marcado por uma notável valorização do café, com um aumento de 71% nos preços. Os especialistas esperavam que esse crescimento das matérias-primas moderasse em 2024, mas a realidade está a ser bem diferente.
O preço do café robusta, uma das variedades mais consumidas mundialmente, disparou 46% somente neste ano e 71,5% desde outubro, alcançando 3.900 dólares (3.595 euros) por tonelada. Em abril, o robusta chegou ao valor histórico de 4.000 dólares (3.687 euros) por tonelada.
O café robusta compõe 40% da oferta global, enquanto o arábica responde por 60%. Embora o arábica também tenha registrado um aumento de preços (+16% em 2023), a sua escalada tem sido mais moderada devido à maior capacidade de produção do Brasil, o país principal fornecedor. Desde outubro, o preço do arábica subiu 49%.
A Volcafé, uma das maiores empresas de comercialização de café, destacou que as previsões para o robusta são pessimistas, apontando para um “quarto ano de déficit”, desta vez sem precedentes, revela o ‘elEconomista’. A produção global fraca do ano passado não recuperou como esperado, aumentando a pressão sobre os preços.
O Vietnam, principal produtor de robusta, está a enfrentar o seu pior potencial agrícola em 13 anos, devido a chuvas que causaram danos irreversíveis e aos elevados custos dos fertilizantes. A expansão de outras culturas também reduziu a área de cultivo de café.
O país produz 26,3 milhões de unidades de robusta (sacos de 60kg), seguido pelo Brasil com 22,8 milhões. A produção fragmentada de outros países, como a Indonésia (10,5 milhões) e Uganda (5,56 milhões), não consegue compensar a queda vietnamita. Os stocks globais de café estão no nível mais baixo em três décadas, agravando a crise de oferta.
No Brasil, a situação também é preocupante. A Indonésia, outro grande produtor, enfrenta baixos rendimentos, com uma queda de 11% na produção, agravada pelo fenómeno climático El Niño, que pode causar mais secas no final deste ano e início do próximo.
A procura global por café continua a crescer. Nos EUA, o consumo atingiu o máximo em 20 anos, aumentando 7,5% em relação ao ano passado. A Organização Internacional do Café (OIC) prevê um aumento de 2% no consumo mundial em 2023, apesar da inflação e do aumento dos preços.
A logística para dar resposta a esta procura também enfrenta desafios, com ataques Houthi a navios mercantes na rota do Canal de Suez e Mar Vermelho, a elevarem o custo do frete em 150%.
O Banco Mundial alerta que a esperada queda nos preços do café pode ser adiada para além de 2024, devido ao contínuo aumento da procura e aos problemas de produção.