Assembleia Municipal de Lisboa recebe hoje petição com mais de 1.500 assinaturas para criação de ciclovia segregada na Avenida da Índia

No dia em que se completa um mês da morte de Pedro Sobral, diretor-geral de Edições do Grupo Leya e presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, atropelado a 21 de dezembro na Avenida da Índia enquanto circulava de bicicleta, será entregue hoje na Assembleia Municipal de Lisboa uma petição que apela à criação urgente de uma ciclovia segregada naquela avenida. A iniciativa, promovida pelo movimento Lisboa Possível, já conta com mais de 1.500 assinaturas, incluindo figuras políticas, membros de associações cívicas e ambientalistas, embaixadores do Pacto Climático Europeu e cidadãos.

A petição exige uma ciclovia com “separação física, capaz de garantir a segurança de quem nela circula”. Segundo o documento, a Avenida da Índia, que liga Oeiras e as freguesias lisboetas de Belém e Ajuda ao centro da cidade, é um eixo fundamental da mobilidade urbana, mas carece de condições seguras para a circulação de bicicletas. Apesar de existir, desde fevereiro de 2021, um projeto para ligar as ciclovias da Rua Fernão Mendes Pinto (Algés) à Avenida

24 de Julho (Alcântara), atravessando a Avenida da Índia, o plano permanece por concretizar.

“Na Avenida da Índia e na paralela Avenida de Brasília, somam-se oito faixas para automóveis e nenhuma para bicicletas”, afirma António Gonçalves Pereira, coordenador da Ecomood Portugal, embaixador do Pacto Climático Europeu e um dos signatários que, no dia 21 de janeiro, pelas 14h30, irá entregar a petição à Assembleia Municipal de Lisboa, no Fórum Lisboa. “O que o Município de Lisboa classifica como ciclovia é, na verdade, um passeio partilhado com peões, o que é inaceitável num eixo tão estratégico da cidade”, pelo que esta ausência de infraestrutura adequada é um obstáculo para quem deseja utilizar a bicicleta como meio de transporte seguro e eficiente, indo além do lazer.

A morte de Pedro Sobral em 2024 e de Patrizia Paradiso, atropelada na mesma via em 2021, evidencia um problema estrutural apontado pela petição: a priorização do automóvel em detrimento da segurança de ciclistas e peões. “Estas tragédias não são incidentes isolados, mas o reflexo de uma política urbana que negligencia a sustentabilidade e a mobilidade ativa”, alerta António Gonçalves Pereira.

O embaixador do Pacto Climático Europeu destaca ainda as condições perigosas que acentuam a ausência de infraestrutura: “As velocidades praticadas na Avenida da Índia frequentemente ultrapassam os 100 km/h, apesar do limite de 50 km/h, que é ineficazmente controlado. Com apenas dois radares, sem lombas e estreitamento de vias, esta avenida permanece uma autoestrada disfarçada no meio da cidade”, afirma. Segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, a probabilidade de um peão morrer num atropelamento a 50 km/h é de 80%, enquanto a 30 km/h esse risco reduz para 10%.

Para além da construção de uma nova infraestrutura naquela avenida, António Gonçalves Pereira e os signatários da petição defendem uma maior conexão entre os troços cicláveis existentes, de forma a tornar a bicicleta uma alternativa realmente viável e segura em relação ao automóvel. Além de promover a mobilidade ativa, prioridade da Comissão Europeia, a infraestrutura ajudará a acalmar o tráfego, reduzir a velocidade dos automóveis, desincentivar o uso do carro no acesso ao centro da cidade e evitar mais vítimas mortais.

A petição também destaca os impactos ambientais: a ciclovia poderá ajudar a reduzir as emissões de dióxido de carbono, contribuindo para o combate às alterações climáticas. Atualmente, o setor dos transportes é o maior responsável pelas emissões de gases de efeito estufa em Portugal e o único cuja pegada de carbono continua a crescer. Além disso, a ciclovia contribui para descongestionar o trânsito, proporcionando uma solução sustentável e duradoura para os desafios da mobilidade em Lisboa.

António Gonçalves Pereira afirma que o caso da Avenida da Índia é um reflexo de um problema nacional. “O que vemos na Avenida da Índia é apenas um exemplo de muitos locais no país onde a prioridade é dada aos automóveis, ignorando ciclistas e peões”, afirma. Segundo o coordenador da Ecomood, nas primeiras semanas do ano já morreram pelo menos mais cinco ciclistas em Portugal. “Para uma verdadeira transformação, é essencial repensar a mobilidade urbana, colocando a segurança e a sustentabilidade no centro das decisões”, completa.

Em outubro, o Pacto Climático Europeu enviou uma carta à Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), apelando à criação de zonas seguras nas proximidades das escolas, onde as crianças possam brincar livremente e em segurança. O documento propunha a implementação de limites de velocidade reduzidos para 30 km/h em áreas urbanas e melhorias na acessibilidade aos transportes públicos, garantindo condições seguras para deslocações a pé e de bicicleta. Até ao momento, contudo, a ANMP não respondeu ao apelo.

No dia 25 de janeiro, antecipando o Dia Mundial da Educação Ambiental, a Ecomood Portugal, em parceria com várias entidades, irá realizar uma edição especial do formato “Limpar de Bicla”. Neste evento, os participantes irão de bicicleta de Belém a Santa Iria de Azóia, recolhendo resíduos ao longo da margem do Tejo. Durante o percurso, será feita uma paragem simbólica no local onde Pedro Sobral foi atropelado, em sua homenagem e em memória de todas as vítimas de atropelamento. A ocasião incluirá também uma breve conversa sobre medidas urgentes para tornar Lisboa mais amiga da mobilidade ativa e sustentável.

O Pacto Climático Europeu é uma iniciativa central do European Green Deal promovido pela União Europeia, cujas atividades em Portugal são coordenadas pela Associação ZERO. O seu objetivo é mobilizar as comunidades na Europa para os investimentos, atividades e processos que sejam progressivamente menos dependentes dos combustíveis fósseis e da emissão de outros gases com efeito de estufa, promovendo a transição para modos de vida mais seguros e saudáveis e para uma economia sustentável.