Assassinato de general russo em Moscovo pela Ucrânia pode mudar rumo da guerra… mas não no sentido pretendido
Como nos mostrou Sarajevo, em 1914, os assassinatos podem desencadear guerras. Mas pode um assassinato seletivo de um inimigo pode aproximar o fim de um conflito em curso?
Na semana passada, lembrou a publicação britânica ‘The Independent’, agentes ucranianos mataram um importante designer de mísseis russo, Mikhail Shatsky, bem como o comandante militar das armas químicas de Vladimir Putin, o tenente-general Igor Kirillov. O primeiro foi eliminado nos arredores de Moscovo; este último foi atingido no coração residencial da capital, através de um dispositivo escondido numa trotinete e que foi detonado remotamente.
O exército russo pode estar a avançar no leste da Ucrânia – mas, longe das linhas da frente, a Ucrânia está empenhada em mostrar que é uma ameaça às ambições de Putin. O assassinato, como diz a sabedoria convencional, é uma “arma dos fracos”. Mas também tem valor simbólico – sobretudo quando atinge um homem aparentemente superforte.
Em 1942, os serviços de inteligência britânica lançaram de para-quedas agentes checos e eslovacos na sua terra natal ocupada pelos nazis para matar Reinhard Heydrich – o arquiteto da “solução final” nazi. Matar Heydrich foi um rude golpe no arrogante sentimento de impunidade dos dirigentes nazis. Mas não parou nem por um minuto a maquinaria do assassinato em massa – e levou a represálias ferozes.
Eliminar um homem próximo do auge do poder pode forçar uma repensação da política, mas mesmo os altos funcionários são substituíveis. Contudo, mostrar que esses oficiais superiores são pessoalmente vulneráveis pode ser um golpe para o prestígio de um regime, com um efeito ainda maior sobre o moral inimigo.
O facto de os porta-vozes russos terem culpado os “anglo-saxónicos” pelo assassinato do tenente-general Kirillov, à porta de um edifício de apartamentos na capital russa, é um sinal de que o Kremlin não quer permitir que a Ucrânia receba todo o crédito pelo seu assassinato – é muito melhor culpar ‘James Bond’ do que aceitar que o desprezado inimigo ucraniano possa atacar em Moscovo.
A capacidade da Ucrânia para localizar alvos russos importantes e atacá-los à porta de Putin mostra que possui uma rede de agentes capazes de operar dentro da Rússia. Para o presidente, antigo chefe do serviço de segurança interna russo, o FSB, este é um rude golpe no seu prestígio pessoal.
A crueldade desta guerra russo-ucraniana tem vindo a agravar-se ultimamente, mas é a iminência da mudança de presidentes nos Estados Unidos que tornou a situação aguda. Donald Trump quer ser visto como o árbitro global na preparação da sua tomada de posse. Putin esperava moldar o campo de batalha a seu favor antes de Trump regressar à Casa Branca. Volodymyr Zelensky quer lembrar ao mundo que a Ucrânia está a reagir.
A cruel ironia é que, se as negociações de paz estiverem no horizonte, a violência irá provavelmente aumentar. Tanto o Kremlin como Kiev estão a manobrar para assumir posições de maior força antes de entrarem nas conversações patrocinadas por Trump.