As mulheres têm mais risco de Covid-19 longa do que os homens? Estudo revela ‘peça’ que faltava (e também há um grupo etário mais afetado)
Um estudo publicado esta semana na revista JAMA Network Open revelou que as mulheres enfrentam um risco significativamente maior de desenvolver Covid longa em comparação com os homens. A investigação, conduzida pelo Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas (UT Health San Antonio) e financiada pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, identificou que as mulheres têm 31% mais probabilidade de sofrer desta condição persistente, especialmente aquelas com idades entre os 40 e os 55 anos.
O que é a Covid longa?
A Covid longa é uma condição crónica que afeta pessoas que tiveram infeção por SARS-CoV-2, independentemente de terem experienciado sintomas leves ou graves. Os sintomas podem incluir fadiga, problemas de concentração, falta de ar, palpitações, dores de cabeça e distúrbios do sono, podendo persistir por meses ou até anos após a infeção inicial.
Estudos anteriores já indicaram que a prevalência de sintomas de Covid longa entre sobreviventes da doença é elevada. Uma pesquisa publicada na revista Infectious Diseases Now relatou que 54% dos pacientes continuaram a apresentar sintomas seis meses após a infeção, número que se manteve semelhante aos 9 e 12 meses. Entre os sintomas mais comuns destacam-se a astenia, distúrbios do sono e dificuldades de concentração.
Resultados do estudo sobre as diferenças de género
O estudo “Sex Differences in Long Covid” analisou dados de 12.276 participantes, acompanhados ao longo do tempo, como parte da coorte NIH Recover-Adult, que abrangeu 83 locais em 33 estados americanos, além de Washington, D.C. e Porto Rico. A média de idade dos participantes foi de 46 anos.
Os investigadores descobriram que as mulheres apresentavam um risco 31% superior ao dos homens, mesmo após o controlo de fatores como raça, etnia, variantes do vírus, gravidade da infeção inicial e condições sociais. As mulheres menopáusicas mostraram um risco 42% maior, enquanto aquelas não menopáusicas apresentaram um risco 45% superior em comparação com os homens. Por outro lado, as mulheres mais jovens, entre os 18 e os 39 anos, não demonstraram o mesmo nível de persistência dos sintomas.
Possíveis explicações hormonais
Os autores sugerem que as diferenças hormonais podem desempenhar um papel importante no aumento do risco para as mulheres. Altos níveis de estradiol, uma hormona sexual feminina, podem prolongar a inflamação no organismo, contribuindo para a persistência dos sintomas da Covid longa.
“Estas descobertas destacam a importância de avaliar as diferenças no risco da Covid longa entre homens e mulheres e reforçam a necessidade de desenvolver medicamentos específicos para tratar esta condição”, afirmaram os autores do estudo.
A pesquisa reforça a necessidade de maior atenção à saúde das mulheres no contexto pós-Covid. Apesar de estudos anteriores indicarem que os homens enfrentam maior risco de casos graves e mortalidade por Covid-19, a evidência agora aponta para as mulheres como as mais vulneráveis a desenvolver sintomas persistentes.
Os cientistas enfatizam que o impacto da Covid longa na qualidade de vida é significativo, incluindo limitações nas atividades diárias, dificuldades laborais e aumento da procura por cuidados de saúde. “Compreender as diferenças biológicas entre os géneros e os fatores de risco específicos é essencial para mitigar os efeitos desta condição debilitante”, concluem os investigadores.