As guerras de Israel no Médio Oriente podem terminar em 2025? O que dizem os especialistas?

Desde o ataque mortal de 7 de outubro, Israel tem-se envolvido numa série de conflitos regionais, particularmente direcionados contra o Irão e os seus aliados, garantindo que precisa de eliminar as ameaças à segurança que estes representam e garantir que não se repita novo ataque. Telavive tentou destruir o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, e viu-se mesmo num conflito direto com o Irão — o principal financiador desses grupos islâmicos militantes —, embora até agora não tenha desencadeado uma guerra total.

Após a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria, Israel atingiu diversos alvos no país, como supostos stocks de armas químicas. Com 2025 a trazer uma nova dimensão para a política do Médio Oriente, a revista ‘Newsweek’ perguntou a diversos especialistas se os conflitos na região podem terminar no ano que está a chegar.

De acordo com Fawaz A. Gerges, professor de Relações Internacionais na London School of Economics, “o conflito de 100 anos entre Israel e Palestina só terminará quando Israel encerrar a ocupação das terras palestinianas e conceder aos seus vizinhos o direito à autodeterminação”. Segundo o especialista, “tanto a coligação liderada por Netanyahu como a oposição opõem-se veementemente ao estabelecimento de um estado palestiniano independente. Se for o caso, Israel enfrenta o risco de uma guerra eterna”.

Já Eyal Zisser, especialista em História Contemporânea do Médio Oriente da Universidade de Telavive, salientou que “no ano passado, Israel alcançou a maioria dos seus objetivos na guerra que o Hamas e o Hezbollah lançaram no início de outubro de 2023”. “O Hamas foi derrotado como potência militar e governamental em Gaza, o Hezbollah sofreu um duro golpe que o privou da capacidade de dissuadir e ameaçar Israel. Na Síria, o regime de Bashar al-Assad caiu e o Irão foi reprimido, enfraquecido e dissuadido”, apontou. “Essas são circunstâncias favoráveis ​​para acabar com as guerras de Israel em 2025 e traduzir as conquistas militares num movimento político com os estados árabes moderados e talvez também com os palestinianos.”

No entanto, alertou, “não está claro se isso atende aos interesses políticos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ou se ele é capaz de tal movimento devido à pressão dos seus parceiros políticos”, frisando que “quem realmente decidirá se a guerra na região chegará ao fim e se pressão económica, e não militar, será aplicada contra o Irão é Donald Trump”.

Mehran Kamrava, professor da Universidade de Georgetown no Qatar, lembrou que “em 2022, o então primeiro-ministro israelita Naftali Bennett comparou o Irão a um polvo cujos tentáculos — Hezbollah, Hamas, os Houthis, etc. — estão a tentar estrangular o Médio Oriente. Bennett pediu a decapitação do polvo. Isso ainda não aconteceu”.

Porém, “a maioria dos tentáculos do polvo foram de facto severamente enfraquecidos, se não completamente eliminados”, apontou o especialista. “Encorajado pelos sucessos militares desde o final de 2023 e liderado por um primeiro-ministro politicamente sitiado com vários processos judiciais pendentes, é improvável que o Governo israelita interrompa a sua campanha para tentar antagonizar o polvo iraniano”, salientou Kamrava, destacando que “o maior aliado do primeiro-ministro Netanyahu, Donald Trump, não gosta de guerras — elas não são boas para os negócios — e, portanto, a procura por uma guerra em grande escala por parte de Israel é improvável”.

Lior B. Sternfeld, professor associado de História e Estudos Judaicos na Pennsylvania State University (EUA), garantiu que “Israel não terminaria a guerra sem pressão externa”. “Os dilemas legais e políticos de Netanyahu estão a ser amenizados enquanto a guerra ainda está em marcha”, frisou.

Avi Shlaim, professor emérito de Relações Internacionais no St Antony’s College, Universidade de Oxford, sublinhou que “é improvável que as guerras de Israel no Médio Oriente terminem em 2025 ou em qualquer momento no futuro próximo”. “A razão imediata é que Benjamin Netanyahu precisa de prolongar a terrível guerra em Gaza para evitar ser julgado em casa por acusações de corrupção que podem resultar numa pena de prisão”, garantiu.

“A razão mais profunda é que Israel é um estado colonial de assentamentos viciado em ocupação, limpeza étnica e expansão territorial. O atual Governo reivindica a soberania judaica sobre toda a terra de Israel, que inclui a Cisjordânia e, portanto, impede um estado palestiniano independente. Esta é uma receita para conflito permanente”, lembrou o especialista, apontando que a “atual ronda de hostilidades intensas terminará em 2025, mas haverá outras rondas mais cedo ou mais tarde”.