António Costa “desconhece em absoluto” pen com dados de polícias e espiões encontrada em cofre de Vítor Escária

A defesa de António Costa afirmou esta quarta-feira que o ex-primeiro-ministro desconhecia totalmente a existência de uma pen drive contendo informações pessoais de inspetores da Polícia Judiciária (PJ) e agentes dos serviços secretos portugueses. A pen foi encontrada num cofre no gabinete de Vítor Escária, então chefe de gabinete de Costa, durante as buscas da Operação Influencer.

“Perante a notícia hoje tornada pública, [a defesa] quer apenas deixar claro que em momento algum foi o seu constituinte confrontado com a existência desta alegada pen ou com o seu conteúdo, desconhecendo em absoluto do que se trata, pelo que nenhum comentário adicional fará”, declarou a defesa do ex-primeiro-ministro à CNN Portugal.

A pen, que foi apreendida pelas autoridades, continha centenas de dados pessoais de membros da PJ, do Serviço de Informações de Segurança (SIS) e do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED).

Explicação de Vítor Escária e dúvidas do Ministério Público
Vítor Escária, cujo gabinete foi alvo das buscas, alegou que os dados armazenados na pen remontam ao período do seu antecessor, Francisco André, e que o dispositivo terá chegado ao gabinete por via anónima. Segundo Escária, a pen foi guardada no cofre apenas por precaução, mas nunca terá sido utilizada.

Escária, que foi detido em novembro de 2023 no âmbito do processo Influencer – que investiga crimes de tráfico de influência e corrupção –, assegurou que nunca fez uso das informações e que apenas sabia da sua existência porque Francisco André a teria colocado no cofre assim que a recebeu.

Contudo, esta explicação pode não ser suficiente para o Ministério Público (MP). A pen foi identificada como “item 19” e a informação nela contida poderá estar classificada como segredo de Estado. Perante a gravidade da situação, o MP extraiu uma certidão para abertura de um inquérito autónomo para investigar o caso separadamente.

A Operação Influencer, levada a cabo a 7 de novembro de 2023, resultou na detenção de Vítor Escária, do advogado e consultor Diogo Lacerda Machado, dos administradores da empresa Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas.

Além dos detidos, o processo tem como arguidos o ex-ministro das Infraestruturas João Galamba, o ex-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente Nuno Lacasta, o advogado João Tiago Silveira e a própria empresa Start Campus.

O caso está agora dividido em três inquéritos distintos, relacionados com:

  • A construção de um centro de dados em Sines, desenvolvido pela Start Campus;
  • A exploração de lítio em Montalegre e Boticas, no distrito de Vila Real;
  • A produção de hidrogénio em Sines.

Recorde-se que António Costa foi envolvido no caso depois de o Ministério Público abrir um inquérito no Supremo Tribunal de Justiça, uma vez que, na altura, enquanto primeiro-ministro, tinha direito a foro especial. Face à gravidade das acusações, Costa pediu a demissão do cargo, levando à dissolução do Governo.

Após a sua saída de funções e consequente perda do foro especial, a investigação sobre o ex-governante foi transferida para o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que agora conduz o processo.